domingo, 30 de março de 2008

do Emir

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caros alunos

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SOMOS quando TRANSITAMOS


Transitamos...

entre a memória e o orgulho
entre o devir e o tolo
entre "o animal que logo sou" e o "penso logo existo"
entre o e e o ou ( que sempre nos faz Ou ou E)
entre o filho e o pai
entre as convicções e os paradigmas
entre "o eu é um outro" e Eu
entre Sócrates e Nietzsche
entre o penalti e o goleiro
entre a linguagem e a falta dela
entre a música e as paixões
entre o meio e a mensagem
entre a infância e a velhice
entre a tudo que chega e a tudo que sai
entre o perjúrio e a promessa
entre "o rio que entramos e não entramos" e a "univocidade do ser"
entre a borda, a margem, a assíntota e o centro, o dentro, o fora.
entre o clássico e o moderno
entre o barroco e o abstrato
entre o som e a fúria
entre o ícone, o índice e o símbolo
entre os toques no teclado e as imagens na tv
entre Hollywood e o filme queimado
entre Eros e Tanatos, mas também entre ratos, lobos, armadilhas, usinas inteiras
entre guerras e mães
entre a mão e o córtex
entre a informação e a comunicação
entre as palavras e as coisas


Somos, fomos ou seremos ... Arquivos

domingo, 23 de março de 2008

Para Jean Budrillard: a acidez que educa

A verdade nasceu da ilusão
O real nasceu da falta de imaginação
A imaginação do pensamento é mais preciosa que o próprio pensamento

Entrei em contato pela primeira vez com um texto de Jean Baudrillard em 2002, ainda com a dúvida se a opção pela carreira acadêmica tinha sido a mais acertada. Estava ainda em um curso de graduação, após ter abandonado dois outros, e tinha como horizonte a vida na Universidade. O livro era “Cool memories IV” e alguns de seus aforismos – cito dois aqui – me convenceram que sim; que fazer jornalismo para dar aulas seria minha grande decisão em uma sociedade pautada pelo consumo, pelo excesso de comunicação, pelo simulacro. Temas recorrentes do texto do pensador francês me ajudaram, ao lado de outras provocações de sua ácida escrita a enfrentar o dilema proposto pela educação. Baudrillard com seu tom provocativo convida-nos educadores a uma discussão séria sobre as escolhas de quem ensinamos nas sociedades dos diversos rótulos - e longe de uma vocação educativa.
O primeiro daqueles aforismos bem curto dizia: “A ordem social nos ensina a calar, mas não nos ensina o silêncio”. Dele, o impacto de que, apesar dos pesares, temos voz. Primeira dúvida naquele momento, como usá-la? O segundo, um pouco maior, diz respeito às referências do autor. Ambos se encontram no livro citado, lançado no Brasil pela Estação Liberdade. O volume de número IV completa a série de suas “memórias frias”. Reproduzo então o outro aforismo.

“Cito somente aqueles que admiro porque souberam dizer melhor do que eu o que eu queria dizer. Ou o que sinto que poderia escrever. É como declinar nosso pensamento por meio de outra pessoa, que o restitui, como se nós o tivéssemos dado a ela. Que ele tenha sido pensado antes, que tenha sido pensado melhor é então um sinal compartilhado, um sinal predestinado, como um objeto que se oferece ao objetivo. Esse prazer da citação é portanto extremamente raro, e assim deve continuar a ser”.

A citação anterior nos coloca, escritor e leitor, no real objetivo dessas linhas: Baudrillard e as referências nos colocam em movimento. Aqueles que nós admiramos nos colocam em movimento. O pensamento é um movimento. Ensinados a não calar, e sim a explorar o legado da teoria crítica que Baudrillard não abria mão –e que qualquer outra também não pode fazê-lo no contemporâneo- pensamos e homenageamos aqueles que nos movimentam a pensar . Escrevemos sobre aqueles que admiramos, pensamos com aqueles que nos formaram. E nesse mover-se entramos em contato com uma ação. Embora o apocalipse dobrasse as linhas do texto de Jean Baudrillard, sua busca e produção incessante por respostas são saudáveis influências. Pra quem ensina e pra quem aprende.

Pelo percurso, evidentemente, encontramos exageros, mas o que seria do movimento do pensamento se não beirasse o excesso. O que seria da guerra se não fosse sua mídia. O que seria do cinema se não suas influências. Os irmãos Wachowski, diretores de “Matrix”, assumiram publicamente a influência de Jean Baudrillard na concepção do filme, embora Baudrillard diga que os autores não entenderam bem suas teorias. Ficou o excesso. Na tela, o livro “Simulacros e Simulações” guarda os programas do Hacker Neo, personagem de Keanu Reeves, e no exagero hollywoodiano ganhou o pensamento. O filme é parada obrigatória de diversos cursos de filosofia, por exemplo.
A imaginação do pensamento, os excessos do pensamento, a influência do pensamento. Três lições de vida para continuar a se descobrir Jean Baudrillard... Se não bastar, nas palavras do próprio em “A ilusão vital” (2001) uma provocação em tempos de clonagem: “ Mas se a vida é preciosa, é justamente porque ela não tem valor de troca – porque é impossível trocá-la por algum valor final”. Na sociedade das trocas, ‘baudrillar’ é preciso....

O sociólogo francês Jean Baudrillard morreu em Paris em seis de março de 2007 aos 77 anos.

terça-feira, 18 de março de 2008

Nossa Casa




A nossa casa não é nosso lar, a nossa casa tem na esquina um belo bar
pra matar a sede de quem tem
pra saciar a fome de quem não tem
um amor

A nossa casa não é nosso lar pra brindar com aquele amigo, como é que vai?
a nossa casa tem cachorro, criança no colo do pai

A nossa casa não é de todo nossa é de quem quiser aqui entrar
pra contar um caso pra tomar café
A nossa casa sempre tá em pé

Para aquele pobre coitado que não sabe bem qual é!


A nossa casa não é minha e tua
fica no meio de uma escura rua
e entre os teus cabelos e vestidos
ouço alguém bater na porta, mas não pode ser você(pois vc não quer entrar)

pois você não quer a casa,
pois você não vê a graça

A nossa casa tem elevador, sujeira e um cobertor
A nossa casa tem labrador, cigarros e um novo amor
Entro estou a vontade, apesar de tanta dor
saio, apago a luz, tomo um ar, solto a voz de tenor

E um grito desesperado me faz pensar que a nossa casa é de um porto, o cais
mas é também mais... um precipício, um abismo aliás

Nossa casa não tem nada demais.

domingo, 9 de março de 2008

Estéticapolítica

"Eis a


estetização da política,


como a pratica o fascismo.


O comunismo


responde


com a politização da arte"

(Benjamin, W.)

sábado, 8 de março de 2008

Sonho, técnica, sensação. SURROUNDED

Sabia da apresentação do Dream Theater, mas não dei muita bola. Um dia antes do show, um grande amigo recém-chegado de Angola liga dizendo que tem ingresso sobrando. Hesitei um pouco, mas logo já estava convencido de que veria mais uma vez os americanos do metal progressivo que fazem do sonho, teatro. Da primeira vez conhecia as músicas de trás pra frente. Dessa, nem o nome do último disco sabia. Mas lá, com um som prá lá de perfeito, a história é a mesma. Música pra cabeça. Música cerebral. Sonhos; imagens cercadas por técnica. Instrumentos que domados pela mão humana elevam o nosso juízo de gosto. Estética e técnica que convergem para o labirinto das nossas mentes. Sim, é som pesado, guitarras com distorção, pedal duplo, solos com velocidade e feeling, longos temas. E logo no início a bela Surrounded http://www.youtube.com/watch?v=WebiZCvLIE4, com direito a solo de Mother - aquela que mais nos cerca sempre - do Pink Floyd. Música que nos faz repensar nossa condição de demasiado humano. Valeu Jack-o!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Voltando a reler os panfletos situacionistas, a teoria e prática da revolução, ou aquilo que realmente poucos ainda querem de fato, que " as idéias voltem a ser perigosas", me deparo uma vez mais com o dilema entre política e estética. Se no auge do situacionismo, Debord, Piero Simondo, Elena Verrone e cia fizeram a aliança entre o estético e o político, nos dias de hoje, com o espetáculo absoluto fica cada vez mais difícil se posicionar. Sim, trata-se de posições. É cada vez mais fácil ouvir, e confesso que as vezes participo do time: vejo o último estouro de hollywood da mesma forma que me encanto com o underground mais soterrado do submundo das artes. O que essa postura, de fato neosituacionista, gera é o velho conformismo, que bradavam os situacionistas. "A cultura? Mas essa é a mercadoria ideal que obriga a comprar todas as outras..." Como separar os cacos pós-modernos do espetáculo/controle contemporâneos? E por onde andam os filmes contra a arte, ao lado da arte?

sábado, 1 de março de 2008

Artes e pessoas

"A uma arte assim
cosmopolita
assim universal, assim sintética,
é evidente que nenhuma disciplina pode ser imposta, que não a de sentir tudo de todas as maneiras, de sintetizar tudo, de se esforçar por de tal modo expressar-se que dentro de uma antologia de arte sensacionista esteja tudo quanto de essencial produziram o Egipto, a Grécia, Roma, a Renascença e a nossa época. A arte, em vez de ter regras como as artes do passado, passa a ter só uma regra - ser a síntese de tudo. Que cada um de nós multiplique a sua personalidade por todas as outras personalidades."

“A única realidade da vida é a sensação. A única realidade em arte é a consciência da sensação."

"Eu era um poeta impulsionado pela filosofia, não um filósofo dotado de faculdades poéticas."


"Todos os meus escritos ficaram inacabados; sempre novos pensamentos se interpunham, associações de idéias extraordinárias e inexcluíveis, de término infinito.....................................O Caráter da minha mente é tal que odeio os começos e os fins das coisas, porque são pontos definidos."





Fernando Pessoa

COMUNIDADE E CIBERCULTURA: NOVOS DILEMAS DAS IMAGENS EM MOVIMENTO?


Algumas questões advindas com a tecnologia inauguram novos caminhos a serem trilhados por quem produz e consome cinema. Fenômenos na World wide web como as comunidades virtuais (Orkut, Myspace) e a nova sensação Youtube trazem à tona novas formas de se ler o cinema no contemporâneo. O próprio fazer cinematográfico também passa por interessante metamorfose, que novamente remete a pergunta sobre seu fim, mas que indica, sobretudo, novas possibilidades. Na denominação pós-cinema, novos conceitos são suscitados apontando para arte cinematográfica um novo mar, ou seria uma nova estrada de ferro? As imagens em movimento partem em seu trem para uma nova aventura. O trem parte da estação de Ciotat[1] rumo aos espaços da virtualidade. O mar da cibercultura é também cinematográfico.
O conceito de comunidades virtuais criado por Howard Rheingold e recortado por Henrique Antoun “considerava as comunidades virtuais capazes de recriar o tradicional sentido de participação e envolvimento das antigas comunidades, constituindo uma revitalização da esfera pública e social”[2]Pensar o envolvimento da arte cinematográfica com o ciberespaço para entender uma participação maior dos indivíduos em torno do esquecido rótulo Comunidade é dar novos ares ao cinema. Na história do cinema alguns movimentos já possibilitavam detectar essa relação. O neo-realismo, os cinemas novos e parte do cinema político não são reeditados com a internet, mas ganham novos contornos com a liquidez promovida pela interatividade e com alguma liberdade que o novo meio proporciona ao pensarmos na relação com a comunidade.
Não somente em termos de uma mudança em relação aos veículos existentes ou de reformulação, mas, sobretudo no que tange a uma nova concepção de fazer comunicação, vínculo entre os sujeitos, deve ficar o pensamento comunitário e sua relação para com o cinema. Coloca o filósofo da desconstrução, Jacques Derrida, pensando um novo Estado sob a égide das novas tecnologias.

Um estado virtual cujo lugar fosse um site da internet, um Estado sem solo, seria –eis a questão que nos orienta _ um Estado intelectual? Um Estado cujos cidadãos fossem essencialmente intelectuais, intelectuais enquanto cidadãos? Uma questão de ficção científica? Não acredito de modo algum[3].

O próprio virtual redesenha, e o pensamento sobre a comunicação tenta redefinir muitos conceitos, a relação do sujeito contemporâneo com a nova tecnologia da informação e da comunicação em rede. Um estado sem solo na internet mediado pelas questões das imagens em movimento também não nos parece questão de ficção científica. Em meio a esperanças democráticas, mudanças na subjetividade, interatividade e uma virtualização da realidade, o cinema pode ser pensado ainda como o meio que une o fantástico ao tecnológico, mas que acima de tudo traduz de forma poética os anseios de um mundo melhor. Como coloca Deleuze, o cinema é algo que nos faz crer nesse mundo.
[1] A referência aqui é ao primeiro filme mostrado ao público dos irmãos Lumiere “A chegada do trem à Estação Ciotat” (Arrivée d´un train in gare à la Ciotat, 1895).
[2] Henrique Antoun, O poder da comunicação e o jogo das parecerias na cibercultura, XIII Compós, p.3
[3] Jacques Derrida, Papel máquina, São Paulo, Estação liberdade, 2004. p. 214