terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O dia em que Adorno e McLuhan sentaram para ver o BBB*



*Esse foi um dos primeiros posts desse blogue e acho que se referia ao BBB8. Coloco ele de novo na roda com uma nova foto (dessa vez do filme 1984 de Michael Radford)...

Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) se referia vez ou outra a televisão através da expressão “sala de aula sem paredes”. Para o autor, a televisão era um mosaico (uma tela pontilhada) que convidava os sentidos a interagirem e a mente a coletivamente conectar-se. Entusiasta dos meios eletrônicos e profeta das novas mídias, McLuhan não assistiu a explosão dos reality shows na televisão.



Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969), uma das principais vozes da Escola de Frankfurt, negava qualquer possibilidade dos meios eletrônicos estimularem a emancipação do homem. Para Adorno, a televisão possuía uma função, sobretudo deformativa. A rubrica Indústria Cultural, cunhada por Adorno ao lado de Max Horkheimer, colocava a televisão em meio a outros produtos culturais pautados pela produção em série. O sério pensador alemão também não assistiu a explosão dos reality shows na televisão.



Em um momento duplamente crucial na história do veículo televisivo no Brasil: a entrada em cena do modelo digital e a criação de uma TV realmente pública, a rede Globo de televisão estréia mais um BBB. O que McLuhan e Adorno, antagonistas de pensamento, teriam em comum em suas leituras sobre o veículo nos dias de hoje seria a eterna preocupação com a porção educativa da televisão. Como educadores não podemos nos calar com mais uma estréia de um reality show. Fenômenos como esses oito grandes irmãos atestam a necessidade que temos de pensar ainda o veículo. Em tempos onde de longe sentimos que o meio é a massagem, a indústria da cultura ainda dá as cartas. Contra a parede ou no paredão, o BBB pode ser a mensagem para quem ensina.

Não nos preocupemos um instante com audiência, moralismos ou qualquer questão de ordem estética. Pensemos um minuto somente na possibilidade que o veículo ainda possui e como um exemplo - somente um - pode contribuir, através de sua negação, para levarmos a televisão a sério como brilhantemente nos convidava, por volta dos 2000, Arlindo Machado. No livro “A televisão levada a sério” (Editora Senac), Machado explica brevemente as teorias de McLuhan e Adorno e faz uma opção em não ficar com nenhuma das duas, e sim pensar a questão do repertório. Talvez tenha chegado a hora de pensarmos, entusiastas ou demolidores, apocalípticos ou integrados de forma conjunta. Se pudéssemos, devíamos sentar com McLuhan e Adorno para não somente darmos uma “espiadinha” como somos conclamados pelo programa Big Brother Brasil. Mas ir mais além dos olhos, e realmente analisarmos a situação da TV em terra brasileira.

Daí não mais uma Verdade, mas uma provocação adorniana e mcluhaniana pode surgir para a sociedade da informação. Professores que usam o BBB como exemplo do que a televisão não deve ser. Educadores que, através do reality show, discutem como o mesmo meio que cria programas de vanguarda como o Abertura, o Roda viva e o Recorte Cultural, para citarmos três, pode aceitar seus BBB’s. Que a sociedade leve o programa pras suas discussões e transforme esse produto serializado em lição de uma sala de aula sem paredes, que não pode ser esquecida em nenhum momento. Para que não haja mais um irmão da novílingua BBB. Mas para que a forma TV informe e forme um novo cidadão que se pudesse escolher entre ver ou não ver optaria por manter os olhos fechados.