sábado, 24 de abril de 2010

Extratos de uma tarde de escrita de artigos


Passei o dia elaborando artigos, resumos e afins para congressos. Estou muito a vontade com o curso de doutorado que faço e até essas necessárias escritas de trabalhos pra congressos vão indo bem. Tudo bem que tá muito no início, mas... Lembrei de um aforismo do Nietzsche, "Extratos de uma defesa de doutorado", no Crepúsculo dos ídolos que coloco por aqui já que essa ponte é devedora literal a muitas provocações do filólogo alemão. O objetivo: Pra manter-me com esse espírito e não o de outrora ou de um possível porvir...

“Qual é a tarefa de todo ensino mais elevado? Tornar o homem uma máquina. – “Qual o meio para tanto?” – Ele precisa aprender a entediar-se. – “Como se alcança um tal estágio?” – Através do conceito de dever. – “Quem é seu modelo em relação a isto?” – O filólogo: ele ensina o enfronhar-se. “Quem é o homem perfeito?” O funcionário público. “Que filosofia fornece a fórmula mais elevada para o funcionário público?” A filosofia kantiana: o funcionário público enquanto coisa-em-si transformado em juiz do funcionário publico enquanto fenômeno.

Na foto, Lou Salomé, Paul Ree e Nietzsche a caminho de um congresso na Basiléia...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Transplante de rosto ou Forças de fora




No dia em que anunciam o primeiro transplante total de rosto, lembrei dessa consideração do Deleuze no livro sobre o Foucault. A outra face do John Woo é a mesma face hoje!
"Pode-se já prever que as forças, no homem, não entram necessariamente na composição de uma forma-Homem, mas podem investir-se de outra maneira, num outro composto, numa outra forma: mesmo se considerarmos um curto período, o Homem não existiu sempre, e não existirá para sempre. Para que a forma-Homem apareça ou se desenhe é preciso que as forças, no homem, entrem em relação com forças de fora muito especiais"
Gilles Deleuze

http://br.video.yahoo.com/watch/7375994/19289035

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Benjamin


Walter Benjamin fala em Experiência e pobreza sobre o quarto burguês, cujo interior força-nos a "adquirir o máximo possível de hábitos"( Obras escohidas Vol 1, 1985, p.118) que se ajustam melhor a esse interior que a ele próprio. Esses espaços de pelúcia estariam sendo substituídos pelo que Benjamin remonta de Scheerbart por uma "cultura de vidro". Novo ambiente que mudaria, muda e mudará homens por completo. Benjamin por fim advertia-nos: " Deve-se apenas esperar que a nova cultura de vidro não encontre muitos adversários."

Hoje essa foi uma discussão levantada pela profª Jô Gondar e debatida com o prof. Francisco Farias e a turma de Memória social 2 no doutorado em Memória Social que estou tendo o prazer de participar. A atualidade desse pensamento se manifesta na cena contemporânea de diversas formas. Essa cultura de vidro que atravessa telas e textos quebra-se e reconstrói-se num eterno criar e seus ainda muitos adversários insistem em crer que o quarto burguês continua intacto...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Muniz, o BBB 10 e a tal transmídia

Artigo do professor Muniz Sodré publicado no Observatório da Imprensa.


BIG BROTHER BRASIL
O triunfo estatístico do banal

Por Muniz Sodré em 6/4/2010

Na quinta-feira (1/4), era um júbilo só o sistema Globo: a final do Big Brother 10, exibida dois dias antes, dera à rede de TV 40 pontos de média de audiência. "Menos que as edições anteriores (na ordem: 59, 45, 55, 56, 57, 51, 48 e 46 de média)", comentava uma coluna do jornal, ressalvando: "Em compensação, a explosão na internet impressiona: foram mais de 154 milhões de votos, um recorde mundial em reality shows. Com isso, o programa se consagra como o único da TV brasileira que cumpre plenamente o objetivo transmídia. E isso não é pouco". De fato, nada aí é pouco: "Em todas as dez edições do Big Brother Brasil, houve um total de 2 bilhões 558 milhões 958 mil e 35 votos na Globo.com. É muita coisa".

Não se trata mais de fazer ressoar o bordão da crítica culturalista baseada de "bons" e "maus" conteúdos, para despertar a adormecida consciência educacional do público e terminar com uma sentença condenatória do show televisivo. Esse tipo de análise parece-nos hoje rigorosamente inútil ou serve apenas para alimentar de vez em quanto os surtos de moralismo cultural de setores reduzidos da esfera pública.

Pode ter alguma utilidade, entretanto, chamar a atenção para a persistência desse fenômeno mobilizador de audiência com as revelações dos cientistas políticos Amaury de Souza e Bolívar Lamounier no recém-lançado livro A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade, em que ambos traçam um perfil da chamada classe C, isto é, os 26,9 milhões de brasileiros que, com 46% da renda nacional, superam os 44% das classes A e B. Segundo o estudo, trata-se de indivíduos sem qualquer consciência (política) de cidadania, mas que se reconhecem como cidadãos consumidores.

Estratégias de espetacularização
Seria muito interessante determinar de que estrato socioeconômico provém majoritariamente o público do BBB. Mas ainda que não se localize a sua origem nessa indigitada classe C, as tendências políticas e culturais parecem ser as mesmas, ou seja, uma vontade de se fazer presente na esfera pública, desde que essa "presença" não tenha nada a ver com os mecanismos clássicos da cidadania, que implicam participação coletiva na cena pública com o objetivo de influir sobre o controle social: mandatos parlamentares, vigilância sobre o orçamento etc. Com um peculiar sistema de votação para a eliminação de seus figurantes, o BBB cria um espetáculo participativo em que o envolvimento do público, por si só, faz as vezes de um livre movimento de atuação cidadã.

A utilização massiva da internet, conjugada com a audiência televisiva tradicional, é uma novidade mercadológica. Mantém-se inalterado, entretanto, o ponto de vista da crítica de décadas passadas, segundo o qual a cultura de massa "espetaculariza" a vida, ao mesmo tempo em que suas práticas estéticas fazem com que o afeto seja o principal apelo necessário à circulação de produtos e processos do mercado. O valor de sujeito é dado pelo acesso às novas tecnologias (agora, a internet), que propiciam a emergência de um "ser comum" centrado no afeto, na sensibilidade – e na banalidade.

Na mídia convencional (que alguns chamam de "jurássica"), cabe à retórica da propaganda ou da publicidade emocionar pelo discurso banal. As estratégias de espetacularização acabam por produzir um novo tipo de realidade que reorienta hábitos, percepções e sensações. A mídia deixa de apenas informar, para começar a fazer parte como sujeito ativo das relações sociais. É desta maneira que a figura do consumidor começa a adquirir um novo conceito de sujeito social configurado pelo mercado e confinado à esfera do consumo.

Uma espécie de gladiador
Apesar das aparências de mudança introduzidas pela internet, essa figura do consumidor é a mesma para o sistema da mídia. Mesmo que aumente o feedback ou a capacidade de resposta dos usuários de TV e internet (e esta de fato é enorme agora), o marketing midiático continua voltado para o seu público-alvo como uma massa a ser incorporada para efeitos de consolidação da audiência.

Quando o jornal diz que o BBB é "o único da TV brasileira que cumpre plenamente o objetivo transmídia" está na verdade assinalando o valor "moral" exclusivo da programação televisiva: ser um curto-circuito de si mesma. Embora seja apenas uma instância singular do sistema industrial comercial, o programa BBB está nos dizendo que a mídia quer ser apenas "mais-mídia" (não só televisão, mas televisão com internet), que não há qualquer finalidade social ou cultural além de sua própria realização técnica.

É natural que os 154 milhões de votantes do BBB 10 possam sentir-se como sujeitos que exercem democrática e comodamente, de dentro de suas casas, uma livre opção: isso ou aquilo, fulano ou fulana, homossexual ou homofóbico. A tecnologia digital amplia em muitos graus a mais a velha intimidade à distância propiciada pela telenovela. De mouse em punho, o espectador define-se de certo modo como o público da arena romana que decidia sobre vida ou morte do gladiador derrotado.

E talvez não seja absurdo pensar no participante do BBB como uma espécie de gladiador que se vê no espelho da mídia, dia após dia encerrado numa casa, tentando provar para concorrentes e telespectadores que ele é um si mesmo tal e qual se mostra, sem encenação. Nenhuma fera ameaça de fato os participantes e, no final, o vencedor torna-se um pequeno milionário. Para o espectador (classe C?), a moral da história deve ser buscada na animalidade do banal.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Deleito-me ao imaginar que os homens logo ficarão fartos de ler: e os escritores também; de que o erudito de uma geração futura algum dia se conscientizará, fará seu testamento e ordenará que seu cadáver seja incinerado em meio a seus livros, especialmente de seus próprios escritos.

Friedrich Nietzsche Sabedoria para depois de amanhã. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.34.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dreadnox is back ( Master brains do metal brasileiro)


http://www.myspace.com/dreadnoxbrazil

As bandas de amigos são sempre as melhores! Dreadnox de volta com album novo, nova formação e novos-velhos parceiros ( produção do disco é do Tribuzy, o grande Renato do ótimo Horizon). Conheci o Dread nos tempos de Guanabara e Sound Trap. Chegamos a tocar juntos no Black night há... 15 anos!!! Ouvi-los e revê-los hoje é emocionante e um exercício da memória...

Estamos conversando sobre o vídeo da primeira música de trabalho que tá no myspace. "Dance of ignorance". Parceiros de som no passado e de imagens hoje. Vamo que vamo!