sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Foi-se 2010

De fato nesse momento ainda está indo... Tantas coisas que fiquei sem escrever por aqui. Não gosto dessas listas dos melhores. Mas vi e fiz bons shows, bons filmes, li bons livros ( na maior parte textos do doutorado). Mas vimos e lemos um mundo um pouco pior com uma tv pior e uma web em eterna promessa. Diante dos fatos, os meios seguem... Se um dos primeiros posts desse ano ou um dos últimos de 2009 era o cartaz de 2010, o ano em que faríamos contato, 2011 será o ano de conexões... com vida nova.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Um cheiro


Cimento, espiga de milho, remedio da homeopatia,
O mar inteiro é um cheiro. Tem o do casaco da tia.
As flores, os peidos... odores, Ah, e de qualquer padaria!" (Madeleines de todo dia)
E como se não bastasse o cheiro que eu não sentia...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Veritas...

O que é, portanto, a verdade? Uma multidão móvel de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, em resumo, uma soma de relações humanas que foram poeticamente e retoricamente alçadas, transpostas, ornadas, e que, depois de um longo uso, parecem a um povo firmes, canônicas e constrangedoras: as verdades são ilusões que nós esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e que perderam sua força sensível, peças de moedas que perderam seu cunho e que são consideradas a partir de então não já como peças de moeda mas como metal” (Nietzsche, Sobre verdade e mentira..._

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Coleção de areia


Lendo o belíssimo Coleção de areia, do Italo Calvino.

Os textos sobre coleção, mapas e museus são um primor. Do próprio Coleção de areia:
"Mas onde a obsessão colecionista se dobra sobre si mesma
revelando o próprio fundo de egotismo é num mostruário repleto
de pastas simples de papelão amarradas por fi tas, em que,
sobre cada uma delas, uma mão feminina escreveu títulos como:
“Os homens que me agradam”; “Os homens que não me agradam”;
“As mulheres que admiro”; “Meus ciúmes”; “Meus gastos
diários”; “Minha moda”; “Meus desenhos infantis”; “Meus castelos”;
e até “Os papéis que envolviam as laranjas que comi”." (p.14, da edição da Cia das letras)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Anpocs


Participei ao lado de Marcia Bessa e de nossa orientadora Leila Ribeiro do ST24 com o trabalho "DO CINEMA DE RUA AO CINEMA AO VIVO: A MEMÓRIA DO CINE ODEON ENTRE A TRADIÇÃO E A EXPERIMENTAÇÃO AUDIOVISUAIS". Foi 10 e domingo é 13.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

No time*

Sem tempo pra ti meu blog... Devo o texto sobre o "Homem no escuro", do Auster... E agora algumas linhas sobre esse esse novo filme do Carlos Adriano, "Santos Dumont Pré-cineasta", um dos dois que vi no festival do Rio...
Ah, também uma resenhada no belo disco "Dance of ignorance" do Dreadnox!

*No time era do Divine act, do Dread!!!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Lendo as passagens de Benjamin

"esse trabalho deve desenvolver ao máximo a arte de citar sem usar aspas. Sua teoria está intimamente ligada à da montagem" ( Benjamin, Passagens 2006,p.500)

sábado, 31 de julho de 2010

Bergson

"Não temos o que fazer com a lembrança das coisas enquanto temos as próprias coisas”

sábado, 24 de julho de 2010

Por uma estética do live cinema como memória : A arte entre a coleção e performance

Artigo apresentado a Anpuh.

Resumo: Esse artigo apresenta algumas condições para pensarmos a relação entre o cinema ao vivo, essa estética criada pelos VJ’s – conhecidos agora como visual jockeys - e a memória. Para isso pensamos como o colecionismo, patrimônio e a performance tornam-se elementos importantes na estética contemporânea que mixa e remixa artes e técnicas. Temos uma nova preocupação com o audiovisual no cenário atual no sentido de codificar os elementos que compõem essa nova forma de sentir o mundo através de uma remodelação do cinema.

Palavras-Chave: Cinema ao vivo. Memória. Coleção.


Abstract: This paper presents some conditions to think the relation between live cinema, this sensoriality raised by the VJ’s – as Known now as visual jockeys – and memory. For this we think how collectionism, patrimony and performance become important elements in the contemporary aesthetics that mixes and remixes arts and techniques. We have a new preoccupation with the audiovisual in nowadays scene to understand the elements that fills this new way of feeling the world through a new model of cinema.

Keywords: Live Cinema. Memory, Collection.


“A arte contemporânea será tanto mais eficaz quanto mais se orientar em função
da reprodutibilidade e, portanto quanto menos colocar em seu centro a obra original.”
Walter Benjamin
1. Crônica de uma sobrevida anunciada

O final do século XIX assistiu ao surgimento do cinematógrafo, bioscópio e quinetoscópio inventos que marcam a história do cinema enquanto um fazer técnico das imagens em movimento. Os primeiros filmes eram exibidos nos vaudevilles e nas feiras de variedades, entre outras manifestações ao mesmo tempo tecnológicas e artísticas. O primeiro cinema parecia estar ancorado numa experiência que confluía encenações, dança, música e imagens em movimento (CESARINO, 2005: 43). Mais do que uma experiência da visão, os primeiros filmes traduzem um espírito de uma arte feita para ser experimentada ao vivo. É nesse meio que se dá os primeiros passos da arte cinematográfica, quase sempre atrelada a diversas outras formas de espetáculo e quase sempre afastando-se do centro da obra original em função da afirmação de ser reprodutível como nos mostrou Benjamin.
Experimentar o cinema enquanto uma arte da simultaneidade, um cinema próximo a uma representação integral da realidade (BAZIN, 1991: 87), no sentido de viver uma arte para além do cinema e mais associado a outras práticas parecia ser a vocação de uma tecnologia embrionária, claramente voltada para o espectador. Especialmente voltada para a memória. Não a toa um dos arautos da memória social, o filósofo francês Henri Bergson pensa uma consciência cinematográfica do mundo. Logo no prefácio de Matéria e Memória, Bergson assume a relação dos pólos que dão título ao livro. “A matéria. para nós é um conjunto de imagens” (BERGSON, 1999: 1). A memória para Bergson associa-se às imagens. Percebemos as coisas como imagens ou na crítica de Sartre, “Bergson faz do universo um mundo de imagens” (SARTRE, 1985: 35).
O cinema ao vivo que invade a cena contemporânea parece potencializar esse caráter mnemônico tanto pela recuperação de imagens e sons a serem reeditados quanto pela sensorialidade que trabalha na fronteira entre lembrança e esquecimento. Nosso trabalho é, portanto também um trabalho de fronteiras. Tentamos dialogar as novas possibilidades do audiovisual com a idéia de patrimônio intangível a ser preservado - um patrimônio sensível - e com o colecionismo de imagens e sons necessários a qualquer apresentação que compõe a exibição de uma obra cinematográfica ao vivo. Entendamos coleção também conforme a visão de Benjamin:

É decisivo na arte de colecionar que o objeto seja desligado de todas as suas funções primitivas, a fim de travar a relação mais íntima que se pode imaginar com aquilo que lhe é semelhante. Esta relação é diametralmente oposta à utilidade e situa-se sob a categoria singular da completude. O que é essa “completude”? É uma grandiosa tentativa de superar o caráter totalmente irracional de sua mera existência através da integração em um sistema histórico novo, criado especialmente para este fim; a coleção. (BENJAMIN, 2006: 239).

Perguntamos-nos se nos primórdios do cinema uma vocação colecionadora, uma completude já não se precipitava? Os primeiros filmes eram compostos de um único plano. Com a descoberta do corte no interior da cena, a montagem parecia alinhavar uma série de imagens colecionáveis. Na verdade, a montagem aproxima-se de uma operação de colecionamento quando ela escolhe, reorganiza e perpetua as imagens e sons. O acervo dos VJ's confunde-se com as camadas de audiovisual que são exibidas. O caráter primordial do live cinema é a reedição audiovisual. Não estaríamos aí instaurando novas formas de colecionamento? Os VJ's responsáveis pelas sessões de cinema ao vivo não seriam colecionadores da arte contemporânea? Precisamos instaurar para o objeto do cinema ao vivo uma nova ordem, para além da questão da edição ou espetáculo, para torná-lo objeto de coleção. Um objeto intangível, invisível, imaterial, mas ainda assim objeto.

Esse objeto aparentemente ambíguo que se legitima frente aos seus diversos atributos: posse, abstração, uso, funcionalidade etc. só é recuperado de seu estatuto abstrato através do “sentimento de posse”, instituindo através dele a coisa sistematizada: a coleção. Espaço do triunfo do objeto, a coleção pressupõe o reordenamento do mundo exterior e do próprio tempo. Isso é feito através de práticas como o arranjo, a associação, a classificação e a manipulação de objetos que nos auxiliam ainda a ter o domínio das coisas que nos cercam. [...] Possuir é uma realização privilegiada que se concretiza na procura, na ordem, no jogo e no agrupamento. (RIBEIRO, 2007: 2)

Em um documentário recente de Alain Berliner, “Wide awake” (2006), esse triunfo do objeto está intimamente relacionado ao cinema. Em um trecho curioso, o diretor mostra sua coleção de imagens e monta-as para o público. Através de uma montagem que mescla sua paixão pelo colecionismo, Berliner torna-se um dos cineastas que mais se aproxima de um cinema ao vivo com seu cinema. Berliner parece seguir uma vocação iniciada por Dziga Vertov, que no seu “O homem com a câmera” (1929) já mostrava o jogo arquivístico que perpassa a montagem. No Brasil, a obra de Marcelo Masagão também nos é importante lembrar. Seu filme-memória “Nós que aqui estamos por vós esperamos” (1999) é particular no sentido de propor uma coleção de imagens do século XX procuradas, ordenadas e agrupadas em um jogo cinematográfico. ( grifos nossos)
A teoria e a reflexão do e sobre o cinema, de uma forma ou outra, sempre estiveram associadas à memória. Em As teorias dos cineastas, Aumont contrapõe os cineastas da escrita ou do equilíbrio à outra categoria que não busca unicamente a narrativa e o drama, mas “um registro singular na fronteira da ficção, do documento e o do arquivo” (AUMONT, 2002: 87). Essa associação do cinema ao arquivo e ao documento nos leva de volta a Vertov. Para o artista russo, as ideais do cine-olho e do rádio-olho faziam confluir para os sentidos uma nova forma de retratar o mundo. Para além do romance burguês. A tarefa do Kinok era libertar o homem de sua canhestrice associando-o cada vez mais a máquina. Para Vertov uma outra arte cinematográfica era possível como era possível montar o filme de uma só vez (AUMONT; MARIE, 2003: 298).
O cinema é também a arte de imaginar os movimentos dos objetos no espaço. [...] Desenhos em movimento. Esboços em movimento. Teoria da relatividade projetada na tela. NÓS saudamos a fantástica regularidade dos movimentos. Carregados nas asas das hipóteses, nosso olhar movido a hélice se perde no futuro... Viva geometria dinâmica, as carreiras de pontos, de linhas, de superfícies, de volumes (VERTOV apud XAVIER, 1983: 251).

O século XX viu interagir os diversos meios e linguagens para uma nova concepção de espaço e tempo que parecem possibilitar novas façanhas, novas geometrias ao movimento das imagens. O trabalho dos VJ's desenha os pontos, as linhas, as superfícies, ao movimento geométrico que o cinema em seu pouco mais de um século prendeu as narrativas. O live cinema nos parece nesse sentido um cinema de camadas, uma arqueologia de pontos, linhas e volumes. Arquivo e biblioteca audiovisual presentificados.

2. Réquiem do cinema - Da coleção à performance nesse tal live cinema
A expressão live cinema indica como vem sendo chamadas as exibições onde imagens em movimento são projetadas por artistas. O trabalho de edição nos mais variados sentidos, ou seja, da escolha dos planos, seqüências e cenas a diversos tipos de anamorfoses (deformações na imagem com filtros ou outros recursos ópticos), a escolha dos sons – algumas apresentações são feitas com músicos ao vivo – marcam esse “novo cinema”. Visamos associar essa nova experiência do cinema, o cinema ao vivo, como uma questão da memória com grande importância dentro do cenário do patrimônio imaterial, beirando as fronteiras do colecionismo. Parece-nos existir um projeto no objeto do live cinema que de forma assintótica faz mesclar memória, performance e coleção.
O objeto do live cinema é uma somatória de imagens e sons em movimento em edição ativa com a performance de um artista ao vivo, no momento da exibição. Essa coleção que emerge para a cultura é acompanhada a nosso ver de um projeto que redimensiona as relações entre cinema e memória. A (re)criação dos VJ's articula-se com a reconstrução produzida pela memória.
Dois vetores despontam como parte de nossa análise para articular memória e o cinema ao vivo: o colecionismo que essas camadas audiovisuais despertam a partir das mãos e mentes dos VJ's – aqui a dupla mão de memórias dos artistas e memórias do espectador se faz presente – e a dimensão imaterial do patrimônio audiovisual, através de uma invisibilidade da imagem. “Para preservar precisamos antes, classificar e colecionar” (OLIVEN apud ABREU; CHAGAS, 2003: 80) aponta o estudioso de patrimônio imaterial. A proposta desse trabalho é tornar clara uma prática que só tem nos estudos da teoria do cinema alguns indícios – tais como o cinema de atrações – na expressão de Tom Gunning - o teatro filmado, mas também o cinema como um documento e toda a questão da montagem cinematográfica. O trabalho dos VJ's no live cinema precisa ser registrado como mais que uma parte da história do cinema. Ao ligar um equipamento que mescla todas as artes e através da presença do performer conjugar novas possibilidades da imagem, o VJ arquiva. Ao colecionar imagens e criar coleções, o cinema ao vivo torna-se suporte de memória. Memórias vivas. A estética dos VJ’s demanda uma observação de obras e de artistas em um work in progress que faz confluir diversas práticas como o próprio cinema, a música (os VJ's herdaram dos DJ's uma atividade do entretenimento), mas também do teatro, enfim da estética ou melhor da sensibilidade contemporânea. O conceito de performance de uma nova orientação da arte em função das coisas do mundo nos interessa pois o live cinema se funda em cima de uma apresentação, de um acontecimento. Na performance desses novos multiartistas é possível detectar “de acordo com a obra, a presença de fragmentos de poesia, teatro, literatura, cinema, mímica, música, enfim partes visíveis de um universo cultural mais amplo”, como considera Almeida (1985, p.50). Nossa ideia é também usar a performance para pensar as novas relações sensoriais, estéticas e mnemônicas despertadas pelo cinema ao vivo
Embora não fosse pretensão de Gilles Deleuze analisar as novas imagens eletrônicas ao final de A imagem-tempo ele coloca a necessidade de dar continuidade no seu projeto de sua autoria de classificar as imagens. Assim “ a própria tela, mesmo se ainda conserva a posição vertical por convenção, não parece mais remeter à postura humana, como uma janela ou ainda um quadro, mas constitui antes uma mesa de informação, superfície opaca sobre a qual se inscrevem ‘dados’” (DELEUZE,1990: 315). Essa mesa virtual que permite a inscrição de outras imagens é o laboratório do VJ. A articulação de novos modos de ver pautados numa íntima relação entre imagem e memória nos soa relevante. Ela não é só mais uma imagem, estando para além da idéia do “filme como documento de discussão de uma época e seu estatuto como objeto da cultura que encena o passado e expressa o presente” (CAPELATO, 2007: 10) que mostrou-nos algumas associações do cinema com a história.
A inscrição de dados não mais como num quadro, mas em uma moldura que explode - mais próximo ao desejo de pintores como Paul Klee (para o qual os objetos nos percebem) e do cinema de vanguarda dos anos 20 e experimental dos anos 60 parecem ter invadido a arte do cinema ao vivo. Esses “dados” aos quais Deleuze se referia são de todos os tipos. O som orgânico de uma banda acompanhando a projeção de imagens como outrora fazia o piano nos primórdios do cinema invade nossos sentidos, pois agora não só preenche o som que na tela não havia. Agora esse som intervém e co-cria com as imagens, através de tecnologias que fazem do som, imagem e do diegético, acontecimento. Estamos nos parece mesmo diante de novos modos de sentir, diante de uma nova postura do olhar e do ouvir.
Essas coleções/performances dos vj’s que primam pelo excesso da imagem nos dias de hoje fazem do excesso e da imaterialidade uma prática e uma materialidade relevante da arte contemporânea. Nesses modos novos de ver, nesses novos arquivos que não têm a pretensão “de descrever exaustivamente o arquivo de uma sociedade, de uma cultura ou de uma civilização; nem mesmo, sem dúvida, o arquivo de toda uma época” (FOUCAULT, 2007, p.148), se dá o cinema ao vivo. As imagens dos VJ's estariam próximas dos hypomnemata, (FOUCAULT, 2006: 144) de uma memória material, de uma escrita de si, de uma gravação na alma. Não pretende nesse momento o performer dessa prática mostrar a história do cinema, nem mesmo problematizá-la como cineastas como Godard e Wenders, mas recolocar a problemática da imagem em tempos nos quais a visibilidade se transformou em show(s) da realidade, em tempos onde o material e o virtual precisam se harmonizar.

3. Créditos finais
No artigo O Filme, Marc Ferro lança mão de um conceito de zona de realidade não visível para compreender como o cinema nos permite atingir uma região que permanecia “oculta, inapreensível” (FERRO, 1976: 213). Ferro se debruçou sobre o cinema de Kuleshov para vasculhar a revolução russa a partir do cinema. Era no sentido de disseminar informação para proteger a história da revolução que mesmo sem saber – queremos crer – Kuleshov (e também Vertov, Eisenstein, Pudovkin) faziam um cinema que já era ao vivo.
Partir da imagem, das imagens. Não procurar somente nelas exemplificação, confirmação ou desmentido de um outro saber, aquele da tradição escrita. Considerar as imagens tais como são […]. Resta estudar o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção é História; o postulado? Que aquilo que não se realizou, as crenças, as intenções o imaginário do homem, é tanto a História quanto a História (FERRO, 1976, 203).

Em alguns momentos, Ferro toca em questões decisivas para nosso trabalho. Sua preocupação para com as memórias que o filme - essa contra análise da sociedade - endereça é marcante. Sua preocupação em pensar a partir das imagens é exemplar. A zona de realidade não visível que as imagens do live cinema cria, ou a possibilidade que partindo das imagens temos de refletir a memória, nos parece surpreendente. As camadas audiovisuais, e não mais filmes criados pelos VJ's nos parecem intercambiar essas visibilidades, ou ainda, a partir de Pomian, o live cinema teria mais que imagens, vestígios (POMIAN, 2000).
Além dos poucos trabalhos específicos (dois livros voltados mais para a questão operacional e alguns poucos artigos) onde encontramos referências aos artistas e aos primeiros filmes remixados. Dois exemplos: Em Moran onde coletamos que o VJ e DJ Spooky remontou o célebre filme de 1914 O nascimento de uma nação de Griffith (MORAN, 2009: 3). Em The VJ book, Paul Spinrad lança mão de uma curiosa indagação que nos serve. Qual o grande negócio de ser ao vivo? . “O grande negócio é que isso torna cada momento único como na vida” (SPINRAD, 2005: 13). Ao contrário do cinema de massa que seria fácil de se esquecer segundo o autor, o cinema ao vivo é realmente como a vida.
Ainda em fase exploratória, o cinema ao vivo funde memória e cinema, e entre vida e arte faz o sujeito do contemporâneo um artista em potencial. Os VJ’s parecem atualizar em nossa memória, uma memória-imagem sintomática da sensibilidade contemporânea. Com suas recriações de imagens e sons, como um novo olhar de colecionador, os VJ’s remontam e recontam a história da arte cinematográfica, com isso criam uma nova possibilidade estética antenada com a discussão da memória. Se for preciso encontrar um método de análise do cinema ao vivo em função da memória não se pode esquecer o caráter também exploratório da pesquisa de uma nova possibilidade da arte. Nas apresentações ao vivo, o cinema atualiza o cinema em nossa memória, mas, mais ainda, nos força a encarar a memória como uma produção do coletivo como os mostrou Halbwachs. As performances mnemônicas do cinema ao vivo nos parecem refletir, parafraseando Jorge de Lima, sobre uma forma de conhecer as coisas, sendo-as.

Referências

ALMEIDA, Cândido José Mendes de. O que é vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1985.
AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
_________; MARIE, M. Dicionário teórico e crítico de cinema. Campinas: Papirus, 2003.
BAZIN, André. O Cinema – Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
BENJAMIN, Walter. O colecionador. In. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
___________. Obras escolhidas. Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BERGSON, Henri. Matéria e memória. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
CAPELATO, Maria Helena et al. História e cinema: São Paulo: Alameda, 2007.
COSTA, Flávia Cesarino. O primeiro cinema. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2005.
DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.

FERRO, Marc. O filme. In. LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: Novos objetos, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1974.
FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
___________. A escrita de si. In. Ditos e escritos V. 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2006.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2004.
LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. São Paulo: Record, 2005
MORAN, Patricia. Um tempo da imagem em que o movimento é o tempo. Disponível em: http://www.arte.unb.br/6art/textos/patricia.pdf. Acesso em: 12 jul. 2009.

OLIVEN, Ruben. Patrimônio imaterial: considerações iniciais. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
POMIAN, Krzystof. Memória. In: GIL, Fernando. Sistemática. Porto: Imprensa Nacional: Casa da Moeda, 2000.
RIBEIRO, Leila Beatriz. Uma vida iluminada: coleções e imagens narrativas. Niterói, RJ: XII Encontro Regional de História, 2006.
SARTRE, Jean Paul. A imaginação. São Paulo: Difel, 1985.
SPINRAD, Paul. The vj book. New York: Paperback, 2008.
VERTOV, Dziga. Variação do manifesto. In: XAVIER, Ismail. A experiência do cinema. São Paulo: Graal, 1983.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico. 3ªed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

McLuhan é a mensagem


Marshall McLuhan completa 99 anos. Completa, não completaria! O legado de McLuhan está aí para provar. Tentei uma humilde leitura de algumas questões do teórico canadense no meu livro "Desconstruindo McLuhan: O homem como (possível) extensão dos meios". Em 2011 tem o congresso do Media Ecology Association
http://www.media-ecology.org/activities/index.html em ocasião do centenário de McLuhan.

Vou pensar o espaço do cinema e a nova vocação do live cinema à luz de algumas provocações de McLuhan para escrever meu paper e tentar dessa vez ir a um congresso fora do Brasil...

McLuhan é a mensagem! Em qualquer meio, de qualquer meio, se em meio a um meio estiver, Parabéns! (Edmonton, 21 de julho de 1911 — Toronto, 31 de dezembro de 1980)
http://www.youtube.com/watch?v=Orm-urRidH8&feature=related

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Borges

"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de moradas de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu próprio rosto".

sábado, 19 de junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Debord e Hopper


"Foi uma sociedade específica e não uma tecnologia específica que fez o cinema tal como é. Em vez disso, podia ter sido análise histórica, teoria, ensaio, memórias. Podia ter consistido de filmes como o que faço neste momento." Guy Debord (In girum imus nocte et consumimur igni)

O quadro é de Hopper, New York movie, 1938

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vj, memória e Portugal


Meu trabalho ao lado da Profª Leila Ribeiro "Live cinema and collectionism :
The vjing beyond archive images” foi selecionado para o Avanca em Portugal! http://www.avanca.org/index.php

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Vj Godard


"Eu sou contra Hadopi. Não há mais propriedade intelectual"

"Pra mim não há diferenca
entre imagens anônimas de gatos pegas na internet e uma cena de John Ford" ( Godard)

http://www.youtube.com/watch?v=SS09nVRBimo&feature=player_embedded

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dio is Dio



Ronnie James DIO ( 1942-2010)
Sem escrita. Sua voz vale qualquer texto
http://www.youtube.com/watch?v=LmSt1oEIshE ( Rainbow in the Dark)

http://www.youtube.com/watch?v=vqLFl2obk-o&feature=related ( Heaven and Hell)

http://www.youtube.com/watch?v=hvvjiE4AdUI&feature=related ( Tenacious D)

domingo, 16 de maio de 2010

Tempo de imagem


Qual a imagem do tempo se a imagem do tempo é o tempo da imagem?
Imagem que de tempo em tempo, singular, se faz de tempos em tempos outra imagem. Plural...
A equação de Rimbaud (Eu=outro) vale para a imagem. A imagem é outra imagem.
Eu(imago)= Outro (cronos)
O tempo fora de todos os tempos. Desse outro que se desdobra, desenha, desdenha e desaparece com o tempo.
Qual a imagem do tempo se o tempo da imagem do tempo é imagem, é um outro tempo?
Imagem-metrônomo. Imagem-movimento. Imagem-tempo. Imagem-andamento. Imagem-quiáltera. Imagem-quiasma. Imagem-que-é-dado. Imagem-jogo.

Talvez o tempo da imagem que é tempo de tempo de imagem seja som.
Talvez o tempo da imagem que é tempo de tempo de imagem de tempo seja sim.

domingo, 9 de maio de 2010

O rio de Manoel de Barros


O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

(Em Uma didática da invenção)

sábado, 24 de abril de 2010

Extratos de uma tarde de escrita de artigos


Passei o dia elaborando artigos, resumos e afins para congressos. Estou muito a vontade com o curso de doutorado que faço e até essas necessárias escritas de trabalhos pra congressos vão indo bem. Tudo bem que tá muito no início, mas... Lembrei de um aforismo do Nietzsche, "Extratos de uma defesa de doutorado", no Crepúsculo dos ídolos que coloco por aqui já que essa ponte é devedora literal a muitas provocações do filólogo alemão. O objetivo: Pra manter-me com esse espírito e não o de outrora ou de um possível porvir...

“Qual é a tarefa de todo ensino mais elevado? Tornar o homem uma máquina. – “Qual o meio para tanto?” – Ele precisa aprender a entediar-se. – “Como se alcança um tal estágio?” – Através do conceito de dever. – “Quem é seu modelo em relação a isto?” – O filólogo: ele ensina o enfronhar-se. “Quem é o homem perfeito?” O funcionário público. “Que filosofia fornece a fórmula mais elevada para o funcionário público?” A filosofia kantiana: o funcionário público enquanto coisa-em-si transformado em juiz do funcionário publico enquanto fenômeno.

Na foto, Lou Salomé, Paul Ree e Nietzsche a caminho de um congresso na Basiléia...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Transplante de rosto ou Forças de fora




No dia em que anunciam o primeiro transplante total de rosto, lembrei dessa consideração do Deleuze no livro sobre o Foucault. A outra face do John Woo é a mesma face hoje!
"Pode-se já prever que as forças, no homem, não entram necessariamente na composição de uma forma-Homem, mas podem investir-se de outra maneira, num outro composto, numa outra forma: mesmo se considerarmos um curto período, o Homem não existiu sempre, e não existirá para sempre. Para que a forma-Homem apareça ou se desenhe é preciso que as forças, no homem, entrem em relação com forças de fora muito especiais"
Gilles Deleuze

http://br.video.yahoo.com/watch/7375994/19289035

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Benjamin


Walter Benjamin fala em Experiência e pobreza sobre o quarto burguês, cujo interior força-nos a "adquirir o máximo possível de hábitos"( Obras escohidas Vol 1, 1985, p.118) que se ajustam melhor a esse interior que a ele próprio. Esses espaços de pelúcia estariam sendo substituídos pelo que Benjamin remonta de Scheerbart por uma "cultura de vidro". Novo ambiente que mudaria, muda e mudará homens por completo. Benjamin por fim advertia-nos: " Deve-se apenas esperar que a nova cultura de vidro não encontre muitos adversários."

Hoje essa foi uma discussão levantada pela profª Jô Gondar e debatida com o prof. Francisco Farias e a turma de Memória social 2 no doutorado em Memória Social que estou tendo o prazer de participar. A atualidade desse pensamento se manifesta na cena contemporânea de diversas formas. Essa cultura de vidro que atravessa telas e textos quebra-se e reconstrói-se num eterno criar e seus ainda muitos adversários insistem em crer que o quarto burguês continua intacto...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Muniz, o BBB 10 e a tal transmídia

Artigo do professor Muniz Sodré publicado no Observatório da Imprensa.


BIG BROTHER BRASIL
O triunfo estatístico do banal

Por Muniz Sodré em 6/4/2010

Na quinta-feira (1/4), era um júbilo só o sistema Globo: a final do Big Brother 10, exibida dois dias antes, dera à rede de TV 40 pontos de média de audiência. "Menos que as edições anteriores (na ordem: 59, 45, 55, 56, 57, 51, 48 e 46 de média)", comentava uma coluna do jornal, ressalvando: "Em compensação, a explosão na internet impressiona: foram mais de 154 milhões de votos, um recorde mundial em reality shows. Com isso, o programa se consagra como o único da TV brasileira que cumpre plenamente o objetivo transmídia. E isso não é pouco". De fato, nada aí é pouco: "Em todas as dez edições do Big Brother Brasil, houve um total de 2 bilhões 558 milhões 958 mil e 35 votos na Globo.com. É muita coisa".

Não se trata mais de fazer ressoar o bordão da crítica culturalista baseada de "bons" e "maus" conteúdos, para despertar a adormecida consciência educacional do público e terminar com uma sentença condenatória do show televisivo. Esse tipo de análise parece-nos hoje rigorosamente inútil ou serve apenas para alimentar de vez em quanto os surtos de moralismo cultural de setores reduzidos da esfera pública.

Pode ter alguma utilidade, entretanto, chamar a atenção para a persistência desse fenômeno mobilizador de audiência com as revelações dos cientistas políticos Amaury de Souza e Bolívar Lamounier no recém-lançado livro A classe média brasileira: ambições, valores e projetos de sociedade, em que ambos traçam um perfil da chamada classe C, isto é, os 26,9 milhões de brasileiros que, com 46% da renda nacional, superam os 44% das classes A e B. Segundo o estudo, trata-se de indivíduos sem qualquer consciência (política) de cidadania, mas que se reconhecem como cidadãos consumidores.

Estratégias de espetacularização
Seria muito interessante determinar de que estrato socioeconômico provém majoritariamente o público do BBB. Mas ainda que não se localize a sua origem nessa indigitada classe C, as tendências políticas e culturais parecem ser as mesmas, ou seja, uma vontade de se fazer presente na esfera pública, desde que essa "presença" não tenha nada a ver com os mecanismos clássicos da cidadania, que implicam participação coletiva na cena pública com o objetivo de influir sobre o controle social: mandatos parlamentares, vigilância sobre o orçamento etc. Com um peculiar sistema de votação para a eliminação de seus figurantes, o BBB cria um espetáculo participativo em que o envolvimento do público, por si só, faz as vezes de um livre movimento de atuação cidadã.

A utilização massiva da internet, conjugada com a audiência televisiva tradicional, é uma novidade mercadológica. Mantém-se inalterado, entretanto, o ponto de vista da crítica de décadas passadas, segundo o qual a cultura de massa "espetaculariza" a vida, ao mesmo tempo em que suas práticas estéticas fazem com que o afeto seja o principal apelo necessário à circulação de produtos e processos do mercado. O valor de sujeito é dado pelo acesso às novas tecnologias (agora, a internet), que propiciam a emergência de um "ser comum" centrado no afeto, na sensibilidade – e na banalidade.

Na mídia convencional (que alguns chamam de "jurássica"), cabe à retórica da propaganda ou da publicidade emocionar pelo discurso banal. As estratégias de espetacularização acabam por produzir um novo tipo de realidade que reorienta hábitos, percepções e sensações. A mídia deixa de apenas informar, para começar a fazer parte como sujeito ativo das relações sociais. É desta maneira que a figura do consumidor começa a adquirir um novo conceito de sujeito social configurado pelo mercado e confinado à esfera do consumo.

Uma espécie de gladiador
Apesar das aparências de mudança introduzidas pela internet, essa figura do consumidor é a mesma para o sistema da mídia. Mesmo que aumente o feedback ou a capacidade de resposta dos usuários de TV e internet (e esta de fato é enorme agora), o marketing midiático continua voltado para o seu público-alvo como uma massa a ser incorporada para efeitos de consolidação da audiência.

Quando o jornal diz que o BBB é "o único da TV brasileira que cumpre plenamente o objetivo transmídia" está na verdade assinalando o valor "moral" exclusivo da programação televisiva: ser um curto-circuito de si mesma. Embora seja apenas uma instância singular do sistema industrial comercial, o programa BBB está nos dizendo que a mídia quer ser apenas "mais-mídia" (não só televisão, mas televisão com internet), que não há qualquer finalidade social ou cultural além de sua própria realização técnica.

É natural que os 154 milhões de votantes do BBB 10 possam sentir-se como sujeitos que exercem democrática e comodamente, de dentro de suas casas, uma livre opção: isso ou aquilo, fulano ou fulana, homossexual ou homofóbico. A tecnologia digital amplia em muitos graus a mais a velha intimidade à distância propiciada pela telenovela. De mouse em punho, o espectador define-se de certo modo como o público da arena romana que decidia sobre vida ou morte do gladiador derrotado.

E talvez não seja absurdo pensar no participante do BBB como uma espécie de gladiador que se vê no espelho da mídia, dia após dia encerrado numa casa, tentando provar para concorrentes e telespectadores que ele é um si mesmo tal e qual se mostra, sem encenação. Nenhuma fera ameaça de fato os participantes e, no final, o vencedor torna-se um pequeno milionário. Para o espectador (classe C?), a moral da história deve ser buscada na animalidade do banal.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Deleito-me ao imaginar que os homens logo ficarão fartos de ler: e os escritores também; de que o erudito de uma geração futura algum dia se conscientizará, fará seu testamento e ordenará que seu cadáver seja incinerado em meio a seus livros, especialmente de seus próprios escritos.

Friedrich Nietzsche Sabedoria para depois de amanhã. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.34.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dreadnox is back ( Master brains do metal brasileiro)


http://www.myspace.com/dreadnoxbrazil

As bandas de amigos são sempre as melhores! Dreadnox de volta com album novo, nova formação e novos-velhos parceiros ( produção do disco é do Tribuzy, o grande Renato do ótimo Horizon). Conheci o Dread nos tempos de Guanabara e Sound Trap. Chegamos a tocar juntos no Black night há... 15 anos!!! Ouvi-los e revê-los hoje é emocionante e um exercício da memória...

Estamos conversando sobre o vídeo da primeira música de trabalho que tá no myspace. "Dance of ignorance". Parceiros de som no passado e de imagens hoje. Vamo que vamo!

domingo, 7 de março de 2010

Projetosexperimentais.com

http://www.e-publicacoes.com.br/index.php/projetosexperimentais/index

No ar mais um número da revista Projetosexperimentais.com que edito ao lado dos amigos Ricardo Severiano e Beatriz Schmidt. Por aqui, posto o editorial que escrevi para esse número.

“Como falar de uma “comunicação dos arquivos” sem tratar primeiramente do arquivo dos meios de comunicação”? (Jacques Derrida, Mal de arquivo, p.8).
Nesse número da revista Projetosexperimentais.com, essa provocação do filósofo francês Jacques Derrida parece ganhar vida. As propostas por aqui desenvolvidas beiram o grande arquivo que os meios de comunicação e os estudos dos meios criaram ao longo da consolidação do campo. Beiram a diversidade e a diferença, margeiam a alteridade nos fazendo compreender melhor a equação do poeta Rimbaud: “Eu é um outro”. Disso acreditamos tratar a comunicação desses arquivos que seguem. Sintetizá-los para dar forma a um editorial é também uma procura de vida no interior dos arquivos como observou Deleuze sobre a literatura de Melville. Os trabalhos se comunicam justamente por arquivarem propostas importantes e saudáveis para a área que passeiam pela própria saúde, mas também pelo corpo, pelas corporações pelos saberes e poderes que regem os corpos, mas também pela alma das mídias.
Daniela Savaget retoma em IMPRENSA EUFÓRICA, COMUNICAÇÃO COMPROMETIDA: O RECOLHIMENTO DO NELFINAVIR a questão de que jornalismo ainda possui “muitas dificuldades no diálogo entre comunicação e saúde”. Seu estudo receptivo sobre o recolhimento do antiviral, utilizado no tratamento da AIDS, sintetiza que nem sempre há comunicação efetiva pelos profissionais de mídia que tratam da saúde. Já em O CORPO COMO MÍDIA: AS RELAÇÕES ENTRE A TATUAGEM E A DIREÇÃO DE ARTE NA PUBLICIDADE é a saúde da própria publicidade que aparece em jogo. Tiago Larangeira oxigena boas idéias para pensar a direção de arte e o ofício do tatuador e as marcas na tatuado. Se o mestre Chico Buarque já declamou querer “ficar no teu corpo como tatuagem”, o artigo de Larangeira mostra que “é possível afirmar que o tatuador se “transforma” em um diretor de arte quando executa o seu trabalho.”, ficando na nossa mente ( como tatuagem) a necessidade de sempre se pensar o corpo.
Em AS TENTATIVAS DE GOVERNABILIDADE E AUTOREGULAÇÃO DO CIBERESPAÇO, Ines Maria Azevedo do Nascimento pensa os paradoxos da convivência entre o que regulamenta, mas também de quem precisa regulamentar o universo desenhado pela web. Como bem lembra: “O Estado tende a despertar para a questão do controle legal da internet, do exercício da sua soberania sobre a rede, e atentar para eventuais perdas dessa governabilidade em relação aos usuários, as trocas e operações correntes.” Nesse sentido e dessa constatação tentamos ao lado de Leonardo Lagden - em um artigo a
quatro mãos e muitas vozes - problematizar um pouco mais esse espaço dos vídeos na internet que nos força a repensar os direitos autorais. Nosso artigo QUANTOS TUBES HÁ NA REDE SE O MUNDO DAS IMAGENS DÁ VOLTAS E VOLTAS? tenta elencar outros „Youtubes‟ na rede. Vocação dos arquivos da comunicação, da comunicação dos arquivos.
Lembrando de início a mudança perceptiva e sua relação com a existência pensada por Walter Benjamin em um belo artigo também sobre a imagem na rede, sobre essa imagem-rede, Gabriel Malinowski associa o movimento cinematográfico dinamarquês Dogma 95, o Mumblecore ( forma como a crítica vem classificando os filmes de baixo orçamento na cena norte-americana) e o caso do massacre na escola Virginia Tech, onde mais uma vez mídia e barbárie se encontravam. IMAGENS DE NOSSOS TEMPOS é uma bela análise da relação entre estética e subjetividade no contemporâneo.
Inaugurando a seção de resenhas de nossa revista o Youtube aparece por aqui mais uma vez. Trata-se do livro YOUTUBE e a revolução digital : como o maior fenômeno da cultura participativa esta transformando a mídia e a sociedade”, de Jean Burgess e Joshua Green com textos também de Henry Jenkins e John Hartley. George Abreu Assunção sintetiza um pouco da obra desse mundo de arquivos audiovisuais onde transmitimos a nós mesmos.
Esperamos que o leitor arquive esses textos imersos no grande arquivo da www. Se já há algum tempo como observou o pintor Paul Klee os objetos nos percebem, os arquivos dessa projetosexperimentais.com são novas vidas; sobrevidas e sensorialidades que começam também a nos olharem.

sexta-feira, 5 de março de 2010

We want the airwaves




9 to 5 and 5 to 9
Ain't gonna take it
It's our time
We want the world
and we want it know
We're gonna take it anyhow

We want the airwaves
We want the airwaves
We want the airwaves, baby
If rock is gonna stay alive

Oh yeah-well all right
Let's rock-tonite
All night

Where's your guts
And will to survive
And don't you wanna
Keep rock n' roll music alive
Mr. Programmer
I got my hammer
and I'm gonna
Smash my
Smash my
Radio

We want the airwaves
We want the airwaves
We want the airwaves, baby
If rock is gonna stay alive

http://www.youtube.com/watch?v=IV4rMCkyrLE&NR=1

( The Ramones)

quarta-feira, 3 de março de 2010


"Meus heróis não são mais os guerreiros e os reis, mas as coisas de paz, tão boas uma como as outras. As cebolas secando tão boas quanto o tronco de árvore cruzando o pântano. Mas até hoje ninguém conseguiu cantar uma epopéia de paz. O que acontece com a paz, que sua inspiração não dura e que quase não se deixa narrar".


“Os olhos são a luz do corpo. Se os olhos forem bons, o corpo será luminoso. Mas, se forem maus, o corpo estará em trevas”.

“A eterna questão! O sentido da vida. Porque estamos aqui. Um momento tão curto comparado à eternidade, seria melhor as pessoas conhecerem seu destino? Acho que seria melhor, pois elas procuram a vida toda pelo propósito de sua existência”.

“Ninguém ouve o que os outros sentem, ninguém olha o coração dos outros, ninguém pergunta nada, nem informação”.


( WIM WENDERS, Asas do desejo, 1987).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O dia em que Adorno e McLuhan sentaram para ver o BBB*



*Esse foi um dos primeiros posts desse blogue e acho que se referia ao BBB8. Coloco ele de novo na roda com uma nova foto (dessa vez do filme 1984 de Michael Radford)...

Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) se referia vez ou outra a televisão através da expressão “sala de aula sem paredes”. Para o autor, a televisão era um mosaico (uma tela pontilhada) que convidava os sentidos a interagirem e a mente a coletivamente conectar-se. Entusiasta dos meios eletrônicos e profeta das novas mídias, McLuhan não assistiu a explosão dos reality shows na televisão.



Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969), uma das principais vozes da Escola de Frankfurt, negava qualquer possibilidade dos meios eletrônicos estimularem a emancipação do homem. Para Adorno, a televisão possuía uma função, sobretudo deformativa. A rubrica Indústria Cultural, cunhada por Adorno ao lado de Max Horkheimer, colocava a televisão em meio a outros produtos culturais pautados pela produção em série. O sério pensador alemão também não assistiu a explosão dos reality shows na televisão.



Em um momento duplamente crucial na história do veículo televisivo no Brasil: a entrada em cena do modelo digital e a criação de uma TV realmente pública, a rede Globo de televisão estréia mais um BBB. O que McLuhan e Adorno, antagonistas de pensamento, teriam em comum em suas leituras sobre o veículo nos dias de hoje seria a eterna preocupação com a porção educativa da televisão. Como educadores não podemos nos calar com mais uma estréia de um reality show. Fenômenos como esses oito grandes irmãos atestam a necessidade que temos de pensar ainda o veículo. Em tempos onde de longe sentimos que o meio é a massagem, a indústria da cultura ainda dá as cartas. Contra a parede ou no paredão, o BBB pode ser a mensagem para quem ensina.

Não nos preocupemos um instante com audiência, moralismos ou qualquer questão de ordem estética. Pensemos um minuto somente na possibilidade que o veículo ainda possui e como um exemplo - somente um - pode contribuir, através de sua negação, para levarmos a televisão a sério como brilhantemente nos convidava, por volta dos 2000, Arlindo Machado. No livro “A televisão levada a sério” (Editora Senac), Machado explica brevemente as teorias de McLuhan e Adorno e faz uma opção em não ficar com nenhuma das duas, e sim pensar a questão do repertório. Talvez tenha chegado a hora de pensarmos, entusiastas ou demolidores, apocalípticos ou integrados de forma conjunta. Se pudéssemos, devíamos sentar com McLuhan e Adorno para não somente darmos uma “espiadinha” como somos conclamados pelo programa Big Brother Brasil. Mas ir mais além dos olhos, e realmente analisarmos a situação da TV em terra brasileira.

Daí não mais uma Verdade, mas uma provocação adorniana e mcluhaniana pode surgir para a sociedade da informação. Professores que usam o BBB como exemplo do que a televisão não deve ser. Educadores que, através do reality show, discutem como o mesmo meio que cria programas de vanguarda como o Abertura, o Roda viva e o Recorte Cultural, para citarmos três, pode aceitar seus BBB’s. Que a sociedade leve o programa pras suas discussões e transforme esse produto serializado em lição de uma sala de aula sem paredes, que não pode ser esquecida em nenhum momento. Para que não haja mais um irmão da novílingua BBB. Mas para que a forma TV informe e forme um novo cidadão que se pudesse escolher entre ver ou não ver optaria por manter os olhos fechados.

domingo, 31 de janeiro de 2010

o Historial Vasco ( carta a Aldir Blanc)



Rio, 31 de janeiro de 2010

Caro Vascaíno e gênio Aldir Blanc, muito obrigado!

Tinha jurado pra mim mesmo ( embora essa expressão seja uma das piores pra o que realmente fiz) que não ia escrever sobre meu time nesse espaço que dedico às minhas paixões, mas uma recente leitura sua me fez repensar esse pathos. Talvez por O Vasco ser minha grande paixão. Durante muito tempo como qualquer uma, cega e desenfreada. Depois de algumas frustrações com a política do clube sobretudo, essa paixão se transformou em um sentimento inomeável. Ler seu livro em parceria do José Reinaldo Marques, " VASCO - A cruz do bacalhau", me fez tentar nomear esse sentimento ( que nunca vai parar). O Vasco é o time que me faz, e deve fazer todo vascaino, gostar da História. Reluto com a noção de História até hoje. Talvez por minha leitura de Nietzsche uns 20 anos atrás. Sei dos excessos a que ela nos submete e que nos submetemos a ela. Mas o historial - que é como considero o Vasco hoje - é um adjetivo de primeira! Mais do que o Histórico, o historial é como um adjetivo que precisamos re_compor. Esse livro A cruz da bacalhau é uma lição do que um time deve ser. É uma lição do que uma paixão pode ser. Sem fanatismos de tocar o hino a cada segundo ou de se querer nação. O vasco é uma nau, uma nau fantasma que nunca vai afundar... Escrevo essas linhas enquanto nosso Vasco ganha do Friburguense. Tenho poucos minutos para voltar e sofrer historialmente. O Vasco é o time da virada, pois é o time que mais bem representa a História do futebol brasileiro. Pois lutou contra o preconceito dentro e fora dos gramados. Pois foi o primeiro a de fato (assim como a História gosta) a levar o negro pra dentro dos gramados. Pois teve a primeira chefe de torcida mulher. Pois é um time de artistas ( aquele quadro do programa da 'Grobo' do Serginho Groisman da banda da torcida nunca poderá ser com o Vasco, pois a quantidade de músicos vascaínos ( falo músicos mesmo e não produtos da indústria cultural mais nefasta) é incontável. O Vasco é o primeiro nos títulos internacionais e nos acordes nacionais que importam ( Pixinguinha - em boas mãos - o senhor, Guinga, Wagner Tiso, Francis Hime, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Marcelo Camelo, Clementina de Jesus, Fernanda Abreu, Erasmo Carlos, Celso Blues Boy, Wilson Oliveira Filho - o vasco me fez querer tocar guitarra!!!). Ah, e o maior torcedor e não-músico, só no coração: Wilson Oliveira, meu pai que, como Ceceu Rico (seu simpático pai), é o maior vascaíno!!! Ah, quantas vezes o Vasco foi primeiro, que hoje eu nem ligo de ser o eterno segundo. Segundo naquela decisão contra O Real Madri ( aquele jogo em que uma torcida carioca criou uma pseudo torcida Brasil/Espanha) que levou ao abraço nu com meu pai! Despido até das roupas em nome da paixão que herdei dele, do historial que herdei dele e hoje tanto me dói por sua falta. As vitórias em campo ou não do passado me encantam mais que qualquer título. Deem eles todos ao nosso arqui - rival ( assim separado mesmo!!!) Pois me interessa muito mais o fato do Vasco ser mais do que campeão, ser historial. E ser isso tudo fora do tempo e do espaço. Se como você bem lembrou logo depois da queda para a segunda divisão: "Se o vasco for pra terceira divisão sou Vasco, se o vasco deixar de existir, mesmo assim sou Vasco."

Suadações vascaínas no cair da tarde,
Wilson

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

New beginning


"Time and sound, memory and matter - for me, it's all a mix. I look at film as the central myth processing site for the 20th century's subconscious, and if there's anything dj'ing brings home it's how much our memories and lives have been inundated with media culture from the very beginnings of consciousness. We're probably the first generation to grown up with electronic media at every angle. Satellites, cell phones, t.v. telephones, fiber optic cables etc etc You name it, we remember it. Call it the archeaology of the viral virtual or whatever. Film was just the beginning. The nextsituation - vj's & dj's net mixes etc etc... check the situation.... - we're just getting started"
The rebirth of a nation photo
Dj spooky

Pra dar sequencia as imagens estáticas das imagens em movimento dos vj's, lembrando o post http://pontesobreoabismo.blogspot.com/2009/08/blog-post.html

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Odeia a mídia? Seja a mídia


Vendo um vídeo dos Dead Kennedys e lembrando da famosa frase do Jello Biafra ( "Não odeie a mídia, seja a mídia") - esse aí na tela em meio ao público ( um dos significados que McLuhan brilhantemente também lembrou)- penso - não consigo parar de pensar - na necessidade que temos de pensar a todo o tempo o corpo, de botar o corpo pra pensar, de corpar o corpo, incorporar, encorporar nossa era de corporações... mas também de corpos-sensações que estão:

No Som - O punk, o funk, mas também o metal - ontem passei o dia ouvindo Slayer - o samba não do carnaval da Tv, mas do meio do bloco ou do meio da bateria.
NA Imagem - O cinema visceral de Cronenberg, Romero ( lembrei tanto ouvindo o Tom Araya berrar ontem), mas também da mídia psicologizada do Hideo Nakata; o vídeo de letícia Parente e Bill Viola, do genial Chris Cunningham... mas também a imagem da guerra, da dor para abrir nossos olhos e botar nosso corpo em luta no Camboja, no Haiti, no nosso Haiti!
Na Palavra, em qualquer palavra oral, escrita, desconstruída, grunhida!
Na Rede e seus filósofos de plantão, longe de Platão e de qualquer idealismo...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sutil Rohmer se foi...


Não queria que o primeiro post do ano fosse triste. E não será mesmo com o caos que impera no início desse ano nas encostas do Rio, mesmo com esse calor desanimador e mesmo com a morte do Eric Rohmer. Não será triste justamente por esse último fato. A morte é vida, é morte e vida, Claire. Entre tantos bons filmes mais antigos como "A colecionadora" e os outros cinco contos morais e o recente "A inglesa e o duque", a edição do Cahiers du Cinéma e um ativismo invejável, Rohmer era um dos poucos contadores de histórias verborrágicas que gosto no cinema. Seus filmes beiravam a exaustão de um texto tão inteligente que deixava as imagens sutis de Rohmer ainda mais lindas. Vi ontem de novo "A árvore, o prefeito e a mediateca" (1992), sem avatares, só crianças, gente de carne e osso e texto. Terminei o filme rindo e chorando, ciente de que a obra faz-lhe viver. Em tempos de eleição no Brasil ver esse filme para entender o que é direita e esquerda hoje em dia e o papel da cultura e dos ecologistas é indispensável. Fique bem Rohmer...