quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010




O filme é bem fraco. Mas o cartaz é lindo! Feliz 2010. O ano em que faremos contato.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A questão de "Avatar" ( o arrazoamento heideggeriano)




"Mas somente se nos voltarmos pensando para o já pensado, seremos convocados para o que ainda está para ser pensado" ( Martin Heidegger)

"Avatar is way behind the times, both thematically and technologically" .
" It's better than Transformers, and no worse than Ben Hur".(Steven Shaviro)

"Avatar", o filme do momento até primeiro de janeiro, creio, é certamente um bom filme devido a toda tecnologia do qual se constitui e faz-se constituir. Um filósofo e três filmes passaram pela minha cabeça assistindo-o. O primeiro dos filmes e que assisti esse ano foi o "Distrito 9", certamente mais relevante que "Avatar" por tratar do detrito ecológico da própria cibercultura ( O videolog tá lá, os "robôs-tela" também). O segundo foi "Caravana da Coragem", aquele mesmo dos Ewoks que já sacavam Ewya nos 80. E, evidentemente, 10 anos antes, "Matrix". Não vou falar muito o porque esses foram os filmes que vi dentro do filme: semelhanças por afinidade no discurso (ciber)-eco-lógico, semelhanças pela virtualização que passa o cinema de ficção científica dos 2000, semelhanças pelas criaturas da floresta.

Pretendo me ater nessa breve crítica sem muita profundidade ao filósofo que me veio o tempo todo a mente vendo "Avatar" de James Cameron. Talvez por gostar muito de florestas... Heidegger, que volto toda hora a ler e cada vez mais me em-baralho ( no fundo essa parece ser a missão do filósofo da floresta negra) com sua gestell ( traduzido por vezes como arrazoamento, mas que quer dizer em alemão armação, estante) lê a questão da técnica através da relação entre o dispositivo ( não traduzido assim pelo alemão) e o argumento racional do mundo. A expressão acontecimento-apropriação, a "tomada da linguagem natural" (Heidegger, Que é isto - a filosofia/ Identidade e diferença, Vozes, 2006, p.48) que cerca o dasein, o ser aí - supostamente, o sujeito na concepção de Heidegger - é o mote do filme a meu ver.
Comparações desse, confesso, necessário e bom filme, com o rizoma e o devir ( Deleuze, Guattari) e com a biopolítica ( Foucault) já despontam em alguns comentários que venho acompanhando pelo Twitter - sobretudo os da Ivana Bentes (@ivanabentes ) - mas no final acredito que o filme é profundamente heideggeriano. (Aliás as citações ao Steven Shaviro (@shaviro) do início dessas linhas também são do Twitter).
As raízes da metafísica, a linguagem como morada do ser, a ontoteologia (base de toda a metafísica) e a não-libertação da técnica dão sentido a esse Avatar, aos inúmeros Avatares. Nunca fui grande fã de Heidegger durante as aulas de filosofia ( de fenomenologia, especificamente), o autor sempre aparecia como um vilão pela associação ao nazismo, pela leitura equivocada de alguns autores. Mas depois que reconhecemos a importância para a filosofia do século XX, quando começamos a achar que estamos entendendo Heidegger, v-i-s-lumbramos outras possibilidades. "Ler" Avatar desse jeito nos faz crer que ele é um filme importante. Não sei se esse espetáculo todo visual e sonoro ( o som me impressionou tanto quanto as imagens) compensa as falhas em meio as folhas, e, mais ainda, se esse tom heideggeriano que percebi possa começar a justificar certos discursos ecológicos de muitos que ainda jogam papel pelas janelas dos carros. Heidegger meio que nos fez ver que continuamos entre o já pensado e o ainda a pensar, meio entre Avatar (ou Matrix) e o tal Distrito 9. Entre arquivos e árvores...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nine out of cem

Sem pressa e sem muitas palavras, o centésimo post do ano do meu blogue fantasma. Como sempre quis que fosse. O ano vai com pressa e cada vez mais verborrágico. Fala-se de tudo, twitta-se tudo. E como se o sem não fosse um com. Pelas bandas dos velhos meios, ora o novo é adorado, ora maldito. Meus fantasmas passeiam nessa diferAnça derridiana. Meu livro pronto e pronto pra ser lançado no final das contas é sobre isso. "Desconstruindo McLuhan", na verdade é uma desconstrução do cinema, do real. Fui compreender isso agora. Mas não muito bem. Não compreendo nada muito bem. O próximo centésimo primeiro (101) post deve ser o convite para o lançamento. Poderia ser sobre o apagão também. Poderia ser 100 mil. Poderia ser tanta coisa. Com ou sem sentido. Poderia e deverá ser contido, sobretudo. Como Sêneca só ler não basta. É necessário escrever. Não mais uma escrita de si etopoiética, foucaultiana, mas uma escrita a partir de si. Sempre foucaultiana. Não mais uma correpondência, mas uma respondência. Uma resposta. Formular primeiro as respostas.... Primeiro formular as respostas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Cameras que sentem

Depois do estúdio em casa, o homem com uma câmera começa a dispensar... o homem.... Essa é a sense cam, uma câmera para se vestir e captar tudo e todos! O pansinoptismo ( com licença a Foucault e a Mathiessen) é geral. The eye(s) of the beholder(s)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Micro-fonia





"O microfone não é mais uma ferramenta passiva para reproduções de alta fidelidade: ele se tornou um instrumento musical..."
Stockhausen.
Essa foto foi tirada na canja de duas semanas atrás e era no momento da intro de "Love ain't no stranger"... Na saturação a microfonia veio e me lembrei dessa frase aí acima do mestre dos ruídos... Aproveitei e fiquei deixando soar o feedback!!!! Barulho é bão mermo!




terça-feira, 27 de outubro de 2009

Yoostar: Eu, estrela?


A amazon.com já vende o Yoostar, equipamento que permite - segundo seus inventores - transformar qualquer casa em um estúdio de cinema. Já discuti com algumas turmas sobre essa ferramenta que sai em torno de 170 dólares. Evidentemente questões como os direitos autorais e direitos "atorais", com perdão da má expressão, são possibilidades de análise. Como já não estou mais muito aí para a tal autoria e como não sou ator, acho um barato o tal Yoostar... Em tempos de um espetáculo cada vez mais latente e de uma reificação da arte cinematográfica, lembrando que " o homem cria as ferramentas e as ferramentas recriam os homens", como bem disse o "tio" McLuhan, o Yoostar é a mensagem. Para saber mais sobre o tal dispositivo: http://www.yoostar.com/

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Eterno retorno

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" (Nietzsche)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Maçã e seus bananas

Dei uma canja com essa galera aí no domingo no café Etílico. Como é bem ver que as bandas de amigos sem qualquer pretensão são melhores do que quase todas as pretensiosas... No reino das bandas de cover, ouvir Right now do Van Halen ( c/ solo sinistro do Jack-o) e Summer of 69 do Bryan Adams é genial. Toquei Love ain't no stranger e Proud Mary... Na foto a banda sem nome e apelidada carinhosamente de 'Maçã e seus bananas'! Era a comemoração do aniversário do Macieira e virou um showzaço...
Parabéns!!! Rock n' roll sempre

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Recortes de recortes do ciberfilosofia

De um blogue bem legal http://cyberself-cyberphilosophy.blogspot.com/ tirei umas rapidinhas:

"Os assassinados são defraudados até mesmo da única coisa que a nossa impotência pode garantir-lhes: a recordação".
"A liquidação do indivíduo é a autêntica assinatura da nova condição musical". (Theodor W. Adorno)


"O mundo permanece, na sua totalidade, como um fabril laboratorium possibilis salutis". (Ernst Bloch)

"Toda a aventura humana, pelo menos até aqui, é uma luta obstinada contra a escassez." (Jean-Paul Sartre)

«A alma conhece todas as outras coisas, só não conhece a si mesma». (Mestre Eckhart)

«Sem o sopro da vida o corpo humano é um cadáver; sem o pensar o espírito humano está morto.» (Hannah Arendt)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"De que serve às pessoas alembrar-se do que se passou já, pois tudo passa,senão de entristecer-se e magoar-se? (...)Ou, em pago das águas que estilei as que do mar passei foram de Lete,para que me esquecera o que passei".

Camões

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A FILOSOFIA FRANCESA


"Toda a filosofia moderna deriva de Descartes (1596-1650). Não tentare-mos
resumir sua doutrina: cada progresso da ciência e da filosofia permite
descobrir nela algo de novo, de modo que compararíamos facilmente esta
obra às obras da natureza, cuja análise jamais será terminada. Mas, assim
como o anatomista faz em um órgão ou em um tecido uma série de cortes
que ele estuda sucessivamente, nós iremos recortar a obra de Descartes em
planos paralelos situados uns abaixo dos outros, para obter dela, sucessiva-mente,
visões cada vez mais profundas.
Um primeiro recorte revela no cartesianismo a filosofia das idéias "cla-ras
e distintas", a que definitivamente libertou o pensamento moderno do
jugo da autoridade para não admitir outra marca da verdade senão a da
evidência.
Um pouco mais em baixo, cruzando a significação dos termos "evidên-cia",
"clareza", "distinção", encontramos uma teoria do método. Descartes,
inventando uma nova geometria, analisou o ato de criação matemática. Ele
descreve as condições desta criação. Ele fornece assim os procedimentos
gerais de pesquisa, que lhe foram sugeridos por sua geometria."


Henri Bergson

sábado, 10 de outubro de 2009

Top 100 do Youtube

http://www.youtube.com/watch?v=BudhFVnN2o0

Viver é simples reação

O dito - Marco Lyrio

Dito assim
É palavra simples quase tão cotidiana
E apesar do significado
Tão profundo e incompleto
Tão direto
Não cabe em nós compreender
Morrer
Tão definitivo e imediato
Todo nascer é de fato
Viver é simples reação
O amor na real
É só semente
Deixe que a vida reaja
Surja e seja simplesmente
Deixe que a vida reaja
Surja inusitadamente

Marco Lyrio

para ouvir http://inspiralante.blogspot.com/2009/10/o-dito-marco-lyrio.html

sexta-feira, 9 de outubro de 2009


"Este homem, entre o divino, e que alça os ares; e os pés presos, que serpenteia na terra. De um lado, fantasmático, inocente, foragido das cavernas; de outro, potente, guerreiro para lá do bronze - no silício: fabricando, maquinando, combinando, micro-computando - depara-se com o fora absoluto, com o impensado, com o século XXI, além de seus saberes e de seus poderes, mas já entendendo que a informação é o seu princípio, o que o individua, pela operação de troca energética, atualizando suas potências, criando disponibilidade e comunicação, que o envolve e o amplifica. Ser estranho e magnífico, sucessão e ressonância no tempo, que se duplica, que se desdobra na tecnologia, esta em permanente crescimento de tensão e prolongamento. "


Claudio Ulpiano

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pintar a Cidade


http://vimeo.com/2301531



Ótimo documentário TEMPORAL : The Art of Stephan Doitschinoff (aka Calma), de Bruno Mitih sobre a grande aventura de Stephan Doitschinoff de pintar um cidade!



Se a Escola de Chicago via na cidade um laboratório social, esse artista a vê como um grande estúdio e uma tela sem fim.



"As cidades também acreditam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem outro bastam para sustentar as suas muralhas. De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas." (Italo Calvino, As cidades invisíveis)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Type




Stereotype


Monotype


Blood type


Are you my type?


Minimalism


Abstract expressionism


Postmodernism


Is it?




We are the children of concrete and steel


This is the place where the truth is concealed


This is the time when the lie is revealed


Everything is possible, but nothing is real




Corporate religion


Televangahypnotism


Suffer till you die


For the sweet-bye-and-bye




Science and technology,


the new mythology


Look deep inside


Empty




Everything that goes aroundComes around




Hypothetical


Theoretical


Circumstantial evidence


Irrelevance


Don’t think twice


Just roll the dice


Pay the price


Snake eyes




Living colour


Na imagem duplicada, o “Pós-Tudo”, de Augusto de Campos

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cortázar e os escribas


"Como os escribas continuarão, os poucos leitores que no mundo havia vão mudar de profissão e adotar também a de escriba. Cada vez mais os países serão compostos por escribas e por fábricas de papel e tinta, os escribas de dia e as máquinas de noite para imprimir o trabalho dos escribas. Primeiro, as bibliotecas transbordarão para fora das casas; então, as prefeituras resolvem (já estamos vendo tudo) sacrificar as áreas de recreação infantil para ampliar as bibliotecas. Depois sucumbem os teatros, as maternidades, os matadouros, as cantinas, os hospitais. (...) os escribas trabalham sem trégua porque a humanidade respeita as vocações e os impressos já chegam à beira do mar"

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Memória coletiva

"Nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente nós estivemos envolvidos e objetos que somente nós vimos. Isto acontece porque jamais estamos sós. Não é preciso que outros estejam presentes, materialmente distintos de nós, porque sempre levamos conosco e em nós certa quantidade de pessoas que não se confudem."
M. Halbwachs

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Obscuro


"Entramos e não entramos, no mesmo rio, somos e não somos".


"A morada para o homem, o extraordinário"


'Lutar contra o coração é difícil, tudo que ele quer, ele compra ao preço da alma"


"(Devemos lembrar também) do homem que esquece o caminho"


Heráclito

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Like the wind


Essa é a trilha de um dos melhores dos piores filmes que já vi. E vai como homenagem a Patrick Swayze. Uma amiga minha que não vejo há tempos, a Cristina, era apaixonada por ele. Essa amiga é uma das responsáveis pela minha paixão pelo cinema. Lá pelo final dos anos 80 tinha que ver esses filmes com a turma do videoclube. Esse, além do finado Swayze, tinha o Jeff Healey - que não toca mais entre nós também - http://www.youtube.com/watch?v=_fxmHNdeL70&feature=related, guitarrista cego que eu passei a adorar depois desse "Matador de Aluguel". Ah, o filme tinha a linda Kelly Lynch! E o Patrick Swayze também cantava. Pra quem não se lembra http://www.youtube.com/watch?v=yfg97-5uhFQ

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Microconto. Micropublicidade anti-nazista


Leni, não sabendo das reais intenções de seu chefe deixou levar-se pela lábia e pelo bigode. Sonhava em fazer filmes, mas precisava mesmo vivê-los. Em uma tarde tomou uma atitude e resolveu deitar-se com ele. Enquanto era penetrada por trás pensava no título de sua obra sobre um vírus que assolaria não só sua München de coração. Mal sabia que ela própria contrairia uma doença mais grave: a paixão de traduzir tudo em imagens, a paixão de transformar seu chefe que nem trepava tão bem assim em um ator viril de filmes plásticos. A paixão de estetizar a política em tableaux vivant e em cartazes cinematográficos.


Não levo muito jeito para os microcontos, prefiro ler os de http://www.microargumentos.blogspot.com/

Mas a imagem é desafiadora!

Propaganda: Mithus publicitarius

Essa é a imagem da peça de prevenção da Aids lançada pela agência alemã Regenbogen e alvo de críticas de ongs como a DHA (Deutsche Aids Hilfe) que exigem a retirada da mensagem. Me lembrei da leitura de "O mito nazista", de Nancy e Lacoue- Labarthe. Vejam só o que falam os autores sobre esse mito: "(...)maneira como o nacional-socialismo, usando ou não os mitos, constituiu-se na dimensão, na função e na segurança propriamente míticas". Essa campanha que traz outros ditadores como Stalin e Saddam aposta nesse mito... Os autores deram um tiro no escuro. Adorno atirou no que viu e acertou no que viu e no que não viu...

domingo, 6 de setembro de 2009

Hear a guitar hero







http://www.youtube.com/watch?v=OBHfb2sVWV4&feature=related






Em 2008, o Youtube promoveu um evento chamado Youtube live. Uma das coisas mais curiosas na época que eu tinha acabado de escrever um artigo (www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-oliveira-mais-inventario.pdf) sobre o site de vídeos foi ver essa apresentação do fantástico Satriani com um jogador de Guitar hero e um guitarrista da internet, se assim posso chamá-lo. A performance tá aí! Hoje passei o dia postando no twitter@wilguitar trechos de façanhas com a guitarra de cordas como se fossem games. E não deixa de ser. Satriani tá aí pra comprovar. Esse aí do lado é inspirado no seu Extremist.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Big Joe

Hoje por uma bacana coincidência acabei conhecendo o grande Big Joe Manfra. Fui levar um violão para o brother luthier Rogério e o bluesman tava por lá. Além de trocar uma ideia vi duas de suas fenders. Ambas de 73 ( uma tele e uma strato) e que desplugadas gritam mais do que muita guitarra por aí em falantes. Cada vez mais, acredito que a técnica é que dá as cartas na arte! Falamos sobre afinação e uma frase do Big Joe ficou ressoando: Bom mesmo pro blues é fender pra tocar desafinado. E quem ouve jamais vai entender o que ele tá falando sobre afinação - que de desafinado o cara não tem uma nota. É a questão da técnica, do fato de uma guitarra nunca atingir os 100% de afinação e o blues usar isso a seu favor. O gênio Marty Friedman é que com seus bends "fora" do tom me fizeram entender isso. Pra conferir o Manfra é só dar uma linkada http://www.bigjoemanfra.com/site/default.asp nesse grande da boa MGB - música guitarrada brasileira...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Voltando aos manifestos

http://andrelemos.info/404nOtF0und/404_71.htm

Manifesto sobre as Mídias Locativas
André LemosProfessor Associado da Faculdade de Comunicação da UFBa.
http://andrelemos.info
Para Bernardo, que já busca o seu lugar no mundo.

Mídia – Todo artefato e processo que permite superar constrangimentos infocomunicacionais do espaço e do tempo. Mídias produzem espacialização, ação social sobre um espaço. Mídias produzem lugares.
Locativo – Categoria gramatical que exprime lugar, como “em” ou “ao lado de”, indicando a localização final ou o momento de uma ação.
Mídia Locativa. Tecnologias e serviços baseados em localização (LBT e LBS) cujos sistemas infocomunicacionais são atentos e reagem ao contexto. Ação comunicacional onde informações digitais são processadas por pessoas, objetos e lugares através de dispositivos eletrônicos, sensores e redes sem fio. Dimensão atual da cibercultura constituindo a era do “ciberespaço vazando para o mundo real” (Russel, 1999), a era da “internet das coisas”.
1. Crie situações para perder-se. O medo de perder-se é correlato ao medo de encontrar. Mas perdendo-se, encontra-se. A desorientação é uma forma de apropriação do espaço! Tudo localizar, mapear, indexar é uma morte simbólica: o medo do imponderável, do encontro com o acaso: evitar uma dimensão vital da existência. “Perder-se é um achar-se perigoso”, como diz Clarice Lispector.
2. Erros, falhas, esquecimentos de localizações e de movimentações são as únicas possibilidades de salvação da hiperracionalização atual do espaço. Só uma apropriação tática dos dispositivos, sensores e redes poderá produzir novos sentidos dos lugares. Desconfie de sua posição e de seu status de nômade. Quando sua operadora diz, “você é nômade”, desconfie. Mas saiba que o nomadismo é um traço essencial da aventura humana na terra!3. Tudo é locativo: aprendemos, amamos, socializamos, jogamos, brigamos, festejamos, trabalhamos..., sempre de forma locativa. Não há nada fora do tempo ou do ESPAÇO. E o espaço social é o LUGAR. Em tudo, o lugar é o que importa.
4. Lugar é composto por fluxos de diversas territorializações. Ele é sempre dinâmico e, ao mesmo tempo, enraizado. Lugar é vínculo social. Lugar é fluxo de emoções, é topos, é memória e cristalização de sentimentos. Lugar não é fixação mas interrelação. Com as mídias locativas, o lugar deve ser visto como fluxo de diversas territorializações (sociocultural, imaginária, simbólica) + bancos de dados informacionais. Espaços visíveis marcados por fluxos invisíveis de informação circulando por redes invisíveis.
5. Hoje é impossível pensar os lugares sem os territórios informacionais. Mas lugares persistem sem nenhuma informatização. Não esqueça destes lugares. Pense nos contextos independentes de qualquer tecnologia.
6. Estamos na era da computação ubíqua e pervasive (Weiser), ou seja da informática em todos os lugares e em todas as coisas. Mas não há tecnologias sensíveis e nenhuma delas está atenta a contextos! Elas estão em tudo e em todos os lugares, mas não sabem o que é um contexto e nem tem capacidades de sentir o local.
7. Depois do upload para a Matrix lá em cima, a internet 1.0, agora é a vez do "download do ciberespaço", da informação nas coisas aqui em baixo, a internet 2.0. Não se trata mais do virtual lá em cima, mas do que fazer com toda essa informação das coisas e dos lugares aqui de baixo! Como nos relacionamos com as coisas e com os lugares? E agora, com essas coisas e lugares dotados de informação digital e conexão à internet? Convocamos Heidegger e Lefevbre?
8. Recuse os LBS e LBT que te colocam apenas na posição de mais um consumidor massivo. Busque produzir informação localizada que faça sentido aqui e agora. Esse é o único meio de construir lugares sociais com essa tecnologias de localização e mobilidade. Reivindique das mídias locativas as funções pós-massivas. A publicidade, o marketing e as operadoras te querem apenas como receptor passivo, massivo, embora supostamente livre, móvel e sem fronteiras. Eles te querem controlado, ativo mas consumindo, receptor pensando que está emitindo. Agir é mais. Reaja à isso.
9. Saiba que as mídias de localização não são novas. Toda mídia é, ao mesmo tempo, local e global. Preste atenção às mídias locativas analógicas que estão entre nós, pense nas anotações urbanas como os graffitis, stickers, bilhetes ou notas, preste atenção às marcas nas ruas, aos índices a sua volta, ao jornalismo local e agora hiperlocal. Aja como um detetive buscando solucionar os mistérios do espaço urbano! Busque o uso crítico dos dispositivos locativos. Lembre-se que o termo “mídia locativa” foi criado por artistas e ativistas para questionar a massificação dos LBS e LBT.
10. Use, divulgue e estimule o desenvolvimento de protocolos não-proprietários, de softwares colaborativos e de fonte aberta, de sistemas operacionais livres e participativos. A sua liberdade no mundo das mídias locativas é diretamente proporcional ao desenvolvimento da computação móvel aberta. Assim como na era do ciberespaço “lá em cima”, bem como na era da internet pingando nas coisas, lute contra o fechamento dos dispositivos, dos sistemas, dos softwares e dos contratos, como os que vigoram no atual sistema de telefonia móvel mundial. Busque, use e distribua jailbreak para todos os sistemas da mobilidade e da localização!
11. Pense que o único interesse do uso das mídias locativas é produzir sentido nos lugares. Se isso não acontece, desligue ou crie um uso que desconstrua o aparelho. Você não precisa ser preciso, você não precisa estar localizado o tempo todo, você não precisa ser sempre racional, um homo-economicus total para viver o local! Se os dispositivos ajudam, use-o, senão, desvie os usos (hacking) e, se não der mesmo assim, abandone!
12. Ache um equilíbrio entre o clique generalizado no mundo da informação e a contemplação ociosa. Desconecte e reconecte os seus dispositivos, sempre, diariamente, permanentemente. Pare, feche os olhos, abra os ouvidos e desloque-se apenas pelo pensamento, essa desterritorialização absoluta (Deleuze).
13. A questão da localização nem sempre está ligada ao espaço e ao movimento, mas ao tempo. Pense assim na duração, na viscosidade das coisas, na imobilidade, no tempo estendido. Saiba que nunca há “tempo perdido” e é impossível “matar o tempo”.
14. Independente de qualquer smartphone ou GPS, o que importa é que você já sabe onde está: "você está aqui" e "agora". Inverta a máxima de Walter Benjamin (1927) que afirmava que os “lugares foram reduzidos a pontos coloridos em um mapa”. Faça com que este pontos sejam efetivamente lugares.
15. Lute para que marcas, indicando nos mapas o que está perto de você, não evitem o seu encontro com o inusitado nem com o outro. Não se preocupe se não souber o que há por perto. Tenha consciência que, de qualquer forma, você sempre encontrará o caminho para os lugares que procura. Simples: peça informação, pergunte, procure indícios, encare o espaço como algo a ser desbravado, localmente, em contato com o mundo ao seu redor.
16. Pense nos cruzamentos, nas esquinas, nas diferenças de posicionamento; pense nas conexões, nas distâncias e nas aproximações; pense no audível e no inaudível, no visível e no invisível, no fixo e no mutável. Pense nos lugares como parte da sua existência, permanentemente em construção. Pense que você só é estando locativamente.
17. Dê sentido ao seu lugar no mundo, social, cultural e politicamente. As mídias locativas podem, através de anotações, de mapeamentos, de redes sociais móveis, de mobilizações políticas ou hedonistas e de jogos de rua, ajudar nesse processo. Mas tudo é potência e resta ainda o trabalho difícil, penoso, lento, de atualização.
18. Pense nos bairros, nos cruzamentos, nos caminhos, nos pontos históricos, nas bordas (Lynch). Sempre se pergunte como as mídias locativas podem agir em cada uma dessas dimensões: Como criar comunidade e agir politicamente (bairro)?, como proporcionar encontros (cruzamentos)?, como abrir novas veredas (caminhos)?, como criar novos marcos (pontos)?, como tensionar as fronteiras (bordas) com essas tecnologias?
19. Toda mobilidade pressupõe imobilidade e não existe e não existirá um mundo sem fronteiras. Fronteira é controle e controle pode ser liberdade. A imobilidade é uma condição da mobilidade e vice-versa. Só podemos pensar uma em relação à outra. Devemos mesmo estar imóveis para pensar a mobilidade e em movimento para pensar a inércia. Defina as suas fronteiras, tenha autonomia no controle de suas bordas, pare para se locomover e locomova-se para parar.
20. “Des-locar” não é acabar com o lugar, mas colocá-lo em perspectiva. Desloque-se e aproprie-se do urbano, escreva seu espaço com texto, imagens e sons, reúna pessoas, jogue, ocupe o espaço lá fora. As mídias locativas permitem isso. Mas se não conseguir fazer nada disso, então pense no uso e no porquê dessas tecnologias.
21. Mapas são sempre psicocartografias, nunca são neutros. Instrumentos técnicos, mnemônicos e comunicacionais, os mapas, incluindo aí os “Google Earth”, “Maps”, “Street”, e seus similares, são sempre expressões de visões tendenciosas do mundo. Eles sempre refletem estruturas de poder e servem como instrumentos para estender um domínio geopolítico. Pense na “miopia” dos mapas digitais. Compare os detalhes de Tóquio e de cidades da África nos mapas digitais para ter uma idéia dessa invisibilidade.
22. Saiba que todo mapa é uma mídia e que todo mapeamento é uma ação de comunicação, com mensagem, emissor, canal e receptor. Mapear é escrever e ler o espaço. Mapear é sempre um discurso sobre o espaço e o tempo. Mapas, como as mídias, são sempre formas de visualização, de conhecimento e de produção da realidade do mundo externo. Busque, como Borges no “Del Rigor de la Ciência”, criar mapas que sejam novos territórios na escala 1 x 1.
23. Construa mapas que desconstruam visões de mundo. Produza mapas do que não é mapeado em seu entorno, do que é invisível aos olhos bem abertos. Escape do cartesianismo, do racionalismo e das coordenadas geoespaciais. Tente usar as mídias locativas para descentralizar o poder de construção de mapas e de sentido sobre os lugares. Como diz Meyrowitz: “toda mídia funciona como um GPS mental";
24. Não abuse das redes sociais móveis: encontrar amigos e conhecidos ao acaso pode ser mais interessante do que o tudo programado. A surpresa pode ser um ingrediente para grandes encontros. Mas pense também nas novas formas de voyeurismo, de controle, de monitoramento e de vigilância de amigos, familiares, empregados e empregadores.
25. Você é um ponto em roaming nos diversos sistemas (GPS, redes de telefonia celular, etiquetas RFID, redes Wi-Fi ou bluetooth...). Saiba que novos tipos de controle, monitoramento e vigilância (sutis, transparentes e locativos) estão cada dia mais presentes em tudo o que você faz, desde ligar o celular, acessar uma rede sem fio em um café, atualizar em mobilidade sua rede social, usar o caixa do banco, circular com uma etiqueta RFID em sua camisa ou pagar um pedágio automaticamente ao passar com o seu carro. Pense que não são apenas as câmeras de vigilância que estão te olhando!
26. Na atual fase da computação ubíqua e da internet das coisas, há os dados fornecidos, os “data”, mas há também aqueles que não são “dados”, mas captados à sua revelia e, as vezes, sem o seu conhecimento, os “capta” (Kapadia, et al.). Pense neles, nos “data” que você fornece e nos “capta” que te são roubados! Lute para proteger (agenciar) os novos territórios informacionais de onde emanam os invisíveis “data” e “capta”. Controle e defenda a sua privacidade e o seu anonimato, fundamento e garantia das democracias modernas. Crie, se for preciso, sistemas de contravigilância: sousveillance (Mann) contra a surveillance. No limite, forneça informações imprecisas ou desligue e torne-se invisível.
27. Não há apenas o panopticom do confinamento disciplinar de Foucault, mas o “controlato”, a modulação, a cifra e o “dividual” de Deleuze. As paredes não vedam mais nada. Os presos atacam da prisão. Para Pascal, o problema do homem é que ele não consegue ficar sozinho no seu quarto. Com as camadas informacionais, o que significa e qual a eficiência informacional de mandar alguém ficar de castigo, sozinho, no seu quarto?
28. Não há uso, distribuição, produção ou consumo neutro de informação e ou de tecnologias. Pense em como as mídias locativas podem te ajudar a criar e destruir seus territórios. Quais os limites dos seus territórios? Pense em maneiras criativas de contar histórias, de fazer política, de jogar e de se divertir. Essas tecnologias podem te ajudar a escrever e demarcar eletronicamente o seu espaço circundante, mas busque novas significações, novas memórias dos lugares, reforçar os vínculos sociais e o imaginário coletivo.
29. Comprometa-se em reverter a lógica dos olhares vigilantes, em produzir sons para ouvidos atentos, em criar imagens do passado atreladas ao presente. As mídias locativas só têm importância se ajudarem a produzir conteúdo que faça sentido para você e para o lugar onde vive. Não use passivamente nenhuma mídia, especialmente essas que agem sobre a sua mobilidade e localização no mundo!
30. Pense no uso da técnica (ela não é neutra), na comunicação como aproximação ao lugar e ao outro (ela não é impossível, mas improvável - Luhmann) e no seu lugar no planeta (ele é parte da sua existência). A pergunta deve ser: as mídias locativas te ajudam a encontrar o teu lugar no mundo?

Azedando o Azeredo

http://uolpolitica.blog.uol.com.br/arch2009-08-30_2009-09-05.html

Pela liberdade da rede!!!

Resumo do trabalho: Solta a imagem ai, Vj...

Com esse artigo pretendemos analisar o universo do chamado live cinema, apresentações de filmes mediadas por um videojockey (Vj). Montadas, sonorizadas, filtradas ao vivo, acompanhadas ou não por música ao vivo essa é uma prática que nos parece falar mais que aos ouvidos ao ampliar os horizontes da arte criada pelos irmãos Lumière. Torna-se, a nosso ver, necessário repensar conceitos como teatro filmado, expanded cinema e cinema de atrações bem como investigar a performance e as novas possibilidades que a tecnologia traz para uma nova prática do audiovisual no contemporâneo. E entre imagem e acontecimento, entre tecno(logias) e dispositivos, o cinema ao vivo parece uma manifestação próxima ao mundo dos games, das instalações, da música eletrônica do que do próprio cinema. Sendo assim, refletir essas práticas é também dialogar com a cibercultura e as transformações da arte das imagens e sons em movimento em nome de uma nova sensorialidade e para além do próprio cinema. Em referência ao bordão que o funk, sobretudo refere-se aos dj’s, acreditamos que os videojockeys são personagens importantes de uma nova possibilidade da arte contemporânea.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Música e mídia


Apresento um trabalho sobre o live cinema na USP no dia 18 de setembro. O 5º encontro de música e mídia (Est)éticas do som tem infs. no sítio: http://www.musimid.mus.br/5encontro .


Meu paper é o "Solta a imagem aí, Vj: Por uma analítica do live cinema"

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quantas Voltas Dá Meu Mundo


Rede de malha jangada de vela içada no ar

Quem não se arrisca não joga a isca

Atividade no mar

Quantas voltas dá meu mundo

Sei lá
Pasto na relva madeira de selva coberta de flor

Seja silvestre preste ou não preste

Atrai de longe o amor

Quantas voltas dá meu mundo

Sei lá
Chega domingo ninguém

na igreja não tem oração

Tudo que é santo vive de encanto

Acorde a fé irmão

Quantas voltas dá meu mundo

Sei lá
Noite de lua viola

na rua pra vida esquecer

Canto aberto verso incerto

A noite o amanhecer

Quantas voltas dá meu mundo

Sei lá
Jeito brejeiro

retrato inteiro da população

Vida sem rumo mas em resumo

Amor no coração

Quantas voltas dá meu mundo
Sei lá

Djavan

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Carne viva na tela morta

O grande Tadeu Capistrano organiza um evento sobre o genial cineasta David Cronenberg aqui no Rio. São filmes (todos), curso e seminários. Chama-se "Cinema em carne viva", e tá lá no Caixa cultural. http://www.carneviva.com/ .Fui ontem a estréia com três filmes que nunca tinha visto - agora da filmografia dele só falta Fast Company, de 79. No domingo tem sessão desse! Os de ontem foram: o curta "Câmera", de 2000 e os primeiros da carreira "Stereo" (1969), filme para os devires-cientista de todos no contemporâneo, e "Crimes do futuro" ( 1970). Esse último já tinha visto uns trechos quando baixei, mas fica bem melhor na tela grande. Esses primeiros filmes mostram um Cronenberg simulando o que viria depois. Se como na entrevista de segunda-feira ao Globo, o desafio do cinema seria traduzir sensações físicas em imagens, vemos um diretor muito mais dentro das mentes, do corpo da mente, do que da carne... claro que o corpo tá lá, não ainda tão monstruoso como em "A mosca" ( minha orientadora no mestrado e querida Ieda Tucherman é uma das palestrantes do seminário e o tema dela trata dos monstros em Cronenberg entre outros tantos monstros). Tá, por exemplo, na sequencia genial e profundamente mcluhaniana ou anti-mclhuhaniana de uma espécie de antena que sai do nariz de um dos personagens de "Crimes do futuro". Ah, tem também o médico que guarda em frascos seus tumores que nascem sem cessar do seu corpo ( e tome de extensões do homem). Em entrevista a Serge Grünberg, Cronenberg explica sua referência a McLuhan, não só através do dr. O'blivion de Videodrome, mas pelo "ambiente" McLuhan na universidade de Toronto, cidade cenário dos primeiros e de vários outros filmes do diretor. Diz o Cronenberg: " Eu não frequentei as aulas de McLuhan, mas sua influência era muito grande nas décadas de 60 e 70... de repente ele era o guru as comunicações e estava em todos os programas de tv ( tradução minha, completamente livre, David Cronenberg, Intreviews with Serge Grünberg. London, 2000, p.66)

Por essas e outras a mostra é imperdível e a pergunta inevitável: O que pode um corpo???

A foto é de Videodrome. Kill your tv...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Perdi minha identidade


Perdi minha carteira de identidade... E entrei em contato com essa foto e sempre com os microcontos maravilhosos desse blog bacanérrimo http://microargumentos.blogspot.com/. A identidade sumiu mesmo... acho que é a 4ª via que corro atrás.

Porno-cinema


"At the heart of pornography is sexuality haunted by its own disappearance. "

Baudrillard

domingo, 16 de agosto de 2009

The real thing


"I know the feelingIt is the real thingThe essence of the truthThe perfect momentThat golden momentI know you feel it tooI know the feelingIt is the real thingYou can't refuse the embrace...It's like the pattern below the skinYou gotta reach out and pull it all inAnd you feel like you're too closeSo you swallow another doseThe pinnacle of happinessFilling up your soulYou don't think you can take any moreYou never wanna let goTo touch the roots of experienceThe most basic ingredientsTo see the unseen glitter of lifeAnd feel the dirt, grief, anger and strifeCherish the certainly of nowIt kills you a bit at a timeCradle the inspirationIt will leave you writhing on the floor...This is so unreal, what I feelThis nourishment, life is bentInto a shape I can holdA twist of fate, all my ownJust grit your teeth, make no soundTake a step away and look aroundJust clench your fist and close your eyesLook deep inside, hypnotizeThe whisper is but a shoutThat's what it is all aboutYes, the ecstasy, you can prayYou will never let it slip awayLike the sacred song that someone sings through youLike the flesh so warm that the thorn sticks intoLike the dream you know one day will come to lifeTry to hold on just a little longer, strongerIt's the jewel of victoryThe chasm of miseryAnd once you have bitten the coreYou will always know the flavorThe split second of divinityYou drink up the skyAll of heaven is in your armsYou know the reason whyIt's right there, all by itselfAnd what you are, there is nothing elseYou're growing a life within a lifeThe lips of wonder kiss you insideAnd when it's over the feeling remainsIt all comes down to thisThe smoke clears, I see what it isThat made me feel this way...This is so unreal, what I feelFlood, sell your soul, feel the bloodPump through your veins, can't explainThe element that's everythingJust clench your fist and close your eyesLook deep inside, hypnotizeYes, the ecstasy, you can prayYou will never let it slip awayLike the echoes of your childhood laughter, ever afterLike the first time love urged you to take it's guidance, in silenceLike your heartbeat when you realize you're dying, but you're tryingLike the way you cry for a happy ending, ending...I know"




sexta-feira, 14 de agosto de 2009

All points between

Essa eu fiz de uma apresentação do The Light surgeons. A obra All points between (2001) é um trabalho do chamado vjing e inaugura a seção/sessão de imagens paradas do cinema ao vivo e em eterno movimento. A expriência é sobre um contato imediato. "You may think this is crazy..."
Vejam no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=yXxML7IssWo&feature=related



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Para Marte

Não sei como te encontrar, o que dizer.. como vai ser? Só "como vai você"
Se os pelos do meu corpo eles não param de crescer o que dizer do meu querer

Vou levando a vida por aqui e tentando o teu amor conseguir

Vou dizendo só não posso te esperar, pois meu tempo é caminho pra um lugar

Então o que posso te falar
É te espero até o dia clarear
Tendo um dia a duração
do teu olhar
do teu amar,
do teu querer
do bem querer....

Agora sei o que te dizer não é tão fácil perceber? Que esse amor nos fez parar de sofrer
Se os pelos do meu corpo esses pararam de crescer
Foi só pra continuar a dizer que eu quero você

Vamo levando a vida por aí e tentando nosso amor prosseguir
Vou dizendo vou pra sempre te esperar
Pois meu tempo é o de um filho a se criar

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Imagem-música


" A grande questão hoje, depois de todos os choques e crises que acomteram não apenas a música, mas todas as formas canônicas de arte no final do século XX é saber se a exclusão da imagem é realmente um fato que diz repeito a uma natureza ou especificidade da música ou apenas um interdito datado historicamente"

Arlindo Machado

domingo, 9 de agosto de 2009

Running...


Não fui ao Information Society, mal consegui vê-los no tenebroso Domingão. Os vocais pelo que senti estavam péssimos. .. Kurt Harland nunca foi um grande cantor e nem era muito pelo canto que eu ouvia essa sociedade... A importância da banda já tá no nome, nos timbres, na organicidade maquínica. Essa vs de Running é curiosa. Depois posto uma versão minha...


sábado, 8 de agosto de 2009

Profissão repórter


"Coração Vagabundo", de Fernando Grostein Andrade é genial! Pra quem gosta ou odeia Cateano ( eu sou fascinado), o filme é uma aula do que pode o documentário contemporâneo. Mostrando que conhece cinema, o diretor liga o filme através de diversos media: o trem, o telefone, os instrumentos. Da laços ao filme com Antonioni ( que sem uma palavra me levou ao choro, que na explicação do Caetano me fez entender um pouco mais sobre o cinema) e Almodovar. A belíssima sequencia da resposta ao Hermeto, a lembrança a Gisele Bünchen, o próprio corpo de Caetano são momentos belíssimos. As músicas aparecem como costura também. Nine out of ten tá lá, Odara, não. Graças a Deus!!! O ateísmo de Caetano, o niilismo tropicalista ( a imagem que mais ficou do filme pra mim é que a tropicália é o principal movimento da cultura brasileira- com todo o exagero possível!), a poesia baiana que tanto nos alimenta são fases de um documento da história da música brasileira

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

História(s) da comunicação


Segunda última (3/08) foi o lançamento do livro "Introdução à história da comunicação", organizado pelos amigos Pablo Laignier e Rafael Fortes (foto). Com artigos de Rogério Sacchi, Isabel Spagnolo, Andréa Vale ( foto) e um meu sobre fotografia e cinema. Um abraço a todos os envolvidos. A editora é a e-papers que lança o meu "Desconstruindo McLuhan" em outubro.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Derrida e McLuhan




Consegui assistir aos filmes "McLuhan's wake" e "Derrida" nessas férias. São dois documentários nada convencionais sobre vida e obra de dois dos maiores pensadores do século XX. Em minha dissertação de mestrado consegui uni-los através do cinema e vê-los retratados pelo cinema me deixou muito contente. Vê-los como homens e não só como intelectuais foi um belo exercício. Os dois, aliás, falam isso de um jeito ou outro nos filmes. O "McLuhan's wake" é mais ousado em termos estéticos. O poema de Poe "A descida do Maelstrom", que McLuhan tao bem aproveitou para delinear seu método é ilustrado com uma animação vigorosa. Já em Derrida, o detalhe fica pela tentativa de desconstrui-lo através, atravessando o cinema. Os espelhos em alguns relatos são bem desconstrucionistas. Agradeço a minha querida amiga Cacau por ter trazido os dois filmes pra mim!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

1/100


"In one case out of a hundred a point is excessively discussed because it is obscure; in the ninety-nine remaining it is obscure because it is excessively discussed. "



Poe

terça-feira, 21 de julho de 2009

Senhora das moscas

Minhas poesias são todas truncadas
As idéias todas erradas
Teorias infundadas
Sepultadas...


Suas metodologias são todas arranjadas
As missas todas faladas
Imagens imaginadas
Semeadas


Nossas cenas são todas filmadas
As falhas todas fadadas
Aguardadas, alardeadas
Amargadas

As Moscas são só povoadas
Reúnem em suas tiradas
A rosa, as lágrimas
Tragadas

terça-feira, 14 de julho de 2009

Introdução à História da Comunicação


Os amigos e mestres Rafael Fortes e Pablo Laignier organizaram o livro 'Introdução à História da Comunicação', lançado há alguns dias pela editora e-papers. Contribuí com um artigo que dá nome ao quinto capítulo do livro: A história da fotografia e do cinema: mais que imagens, sensações. Agradeço demais aos dois confrades e aos outros colegas que também estão no livro. No link, a obra! http://www.e-papers.com.br/sumario.asp?codigo_produto=1652
O lançamento é em agosto!

Ontem foi o dia do Rock

A foto é do Jack-o

domingo, 5 de julho de 2009

Filosofia

Filosofia

(Noel Rosa )

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente

Que cultiva hipocrisia

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Neoconcreto

A expressão neoconcreto é uma tomada de posição em face da arte não-figurativa “geométrica” (neoplasticismo, construtivismo, suprematismo, Escola de Ulm) e particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista. Trabalhando no campo da pintura, escultura, gravura e literatura, os artistas que participam desta I Exposição Neoconcreta encontraram-se, por força de suas experiências, na contingência de rever as posições teóricas adotadas até aqui em face da arte concreta, uma vez que nenhuma delas “compreende” satisfatoriamente as possibilidades expressivas abertas por estas experiências.
Nascida com o cubismo, de uma reação à dissolvência impressionista da linguagem pictórica, era natural que a arte dita geométrica se colocasse numa posição diametralmente oposta às facilidades técnicas e alusivas da pintura corrente. As novas conquistas da física e da mecânica, abrindo uma perspectiva ampla para o pensamento objetivo, incentivariam, nos continuadores dessa revolução, a tendência à racionalização cada vez maior dos processos e dos propósitos da pintura. Uma noção mecanicista de construção invadiria a linguagem dos pintores e dos escultores, gerando, por sua vez, reações igualmente extremistas, de caráter retrógrado como o realismo mágico ou irracionalista como Dadá e o surrealismo. Não resta dúvida, entretanto, que, por trás de suas teorias que consagravam a objetividade da ciência e a precisão da mecânica, os verdadeiros artistas - como é o caso, por exemplo, de Mondrian ou Pevsner - construíam sua obra e, no corpo-a-corpo com a expressão, superaram, muitas vezes, os limites impostos pela teoria. Mas a obra desses artistas tem sido até hoje interpretada na base dos princípios teóricos, que essa obra mesma negou. Propomos uma reinterpretação do neoplasticismo, do construtivismo e dos demais movimentos afins, na base de suas conquistas de expressão e dando prevalência à obra sobre a teoria. Se pretendermos entender a pintura de Mondrian pelas suas teorias, seremos obrigados a escolher entre as duas. Ou bem a profecia de uma total integração da arte na vida cotidiana parece-nos possível e vemos na obra de Mondrian os primeiros passos nesse sentido ou essa integração nos parece cada vez mais remota e a sua obra se nos mostra frustrada. Ou bem a vertical e a horizontal são mesmo os ritmos fundamentais do universo e a obra de Mondrian é a aplicação desse princípio universal ou o princípio é falho e sua obra se revela fundada sobre uma ilusão. Mas a verdade é que a obra de Mondrian aí está, viva e fecunda, acima dessas contradições teóricas. De nada nos servirá ver em Mondrian o destrutor da superfície, do plano e da linha, se não atentamos para o novo espaço que essa destruição construiu.
O mesmo se pode dizer de Vantongerloo ou de Pevsner. Não importam que equações matemáticas estão na raiz de urna escultura ou de um quadro de Vantongerloo, desde que só à experiência direta da percepção a obra entrega a “significação” de seus ritmos e de suas cores. Se Pevsner partiu ou não de figuras da geometria descritiva é uma questão sem interesse em face do novo espaço que as suas esculturas fazem nascer e da expressão cósmico-orgânica que, através dele, suas formas revelam. Terá interesse cultural específico determinar as aproximações entre os objetos artísticos e os instrumentos científicos, entre a intuição do artista e o pensamento objetivo do físico e do engenheiro. Mas, do ponto de vista estético, a obra começa a interessar precisamente pelo que nela há que transcende essas aproximações exteriores: pelo universo de significações existenciais que ela a um tempo funda e revela.
Malevitch, por ter reconhecido o primado da “pura sensibilidade na arte”, salvou as suas definições teóricas das limitações do racionalismo e do mecanicismo, dando a sua pintura uma dimensão transcendente que lhe garante hoje uma notável atualidade. Mas Malevitch pagou caro pela coragem de se opor, simultaneamente, ao figurativismo e à abstração mecanicista, tendo sido considerado até hoje, por certos teóricos racionalistas, corno um ingênuo que não compreendera bem o verdadeiro sentido da nova plástica. Na verdade, Malevitch já exprimia, dentro da pintura “geométrica” uma insatisfação, uma vontade de transcendência do racional e do sensorial que hoje se manifesta de maneira irreprimível.
O neoconcreto, nascido de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro da linguagem estrutural da nova plástica, nega a validez das atitudes cientificistas e positivistas em arte e repõe o problema da expressão, incorporando as novas dimensões “verbais” criadas pela arte não-figurativa construtiva. O racionalismo rouba à arte toda a autonomia e substitui as qualidades intransferíveis da obra de arte por noções da objetividade científica: assim os conceitos de forma, espaço, tempo, estrutura - que na linguagem das artes estão ligados a uma significação existencial, emotiva, afetiva - são confundidos com a aplicação teórica que deles faz a ciência. Na verdade, em nome de preconceitos que hoje a filosofia denuncia (M. Merleau-Ponty, E. Cassirer, S. Langer) - e que ruem em todos os campos, a começar pela biologia moderna, que supera o mecanismo pavloviano - os concretos racionalistas ainda vêem o homem como uma máquina entre máquinas e procuram limitar a arte à expressão dessa realidade teórica.
Não concebemos a obra de arte nem como “máquina” nem como “objeto”, mas como um quasi-corpus, isto é, um ser cuja realidade não se esgota nas relações exteriores de seus elementos; um ser que, decomponível em partes pela análise, só se dá plenamente à abordagem direta, fenomenológica. Acreditamos que a obra de arte supera o mecanismo material sobre o qual repousa, não por alguma virtude extraterrena: supera-o por transcender essas relações mecânicas (que a Gestalt objetiva) e por criar para si uma significação tácita (M. Pority) que emerge nela pela primeira vez. Se tivéssemos que buscar um símile para a obra de arte, não o poderíamos encontrar, portanto, nem na máquina nem no objeto tomados objetivamente, mas, como S. Lanoer e W. Wleidlé, nos organismos vivos. Essa comparação, entretanto, ainda não bastaria para expressar a realidade específica do, organismo estético.
É porque a obra de arte não se limita a ocupar um lugar no espaço objetivo – mas o transcende ao fundar nele uma significação nova - que as noções objetivas de tempo, espaço, forma, estrutura, cor etc não são suficientes para compreender a obra de arte, para dar conta de sua “realidade”. A dificuldade de uma terminologia precisa para exprimir um mundo que não se rende a noções levou a crítica de arte ao uso indiscriminado de palavras que traem a complexidade da obra criada. A influência da tecnologia e da ciência também aqui se manifestou, a ponto de hoje, invertendo-se os papéis, certos artistas, ofuscados por essa terminologia, tentarem fazer arte partindo dessas noções objetivas para aplicá-las como método criativo. Inevitavelmente, os artistas que assim procedem apenas ilustram noções a priori, limitados que estão por um método que já lhes prescreve, de antemão, o resultado do trabalho. Furtando-se à criação espontânea, intuitiva, reduzindo-se a um corpo objetivo num espaço objetivo, o artista concreto racionalista, com seus quadros, apenas solicita de si e do espectador uma reação de estímulo e reflexo: fala ao olho como instrumento e não olho como um modo humano de ter o mundo e se dar a ele; fala ao olho-máquina e não ao olho-corpo.
É porque a obra de arte transcende o espaço mecânico que, nela, as noções de causa e efeito perdem qualquer validez, e as noções de tempo, espaço, forma, cor estão de tal modo integradas - pelo fato mesmo de que não preexistiam, como noções, à obra - que seria impossível falar delas como de termos decomponíveis. A arte neoconcreta, afirmando a integração absoluta desses elementos, acredita que o vocabulário “geométrico” que utiliza pode assumir a expressão de realidades humanas complexas, tal como o provam muitas das obras de Mondrian, Malevitch, Pevsner, Gabo, Sofia Taueber-Arp etc. Se mesmo esses artistas às vezes confundiam o conceito de forma-mecânica com o de forma-expressiva, urge esclarecer que, na linguagem da arte, as formas ditas geométricas perdem o caráter objetivo da geometria para se fazerem veículo da imaginação. A Gestalt, sendo ainda uma psicologia causalista, também é insuficiente para nos fazer compreender esse fenômeno que dissolve o espaço e a forma corno realidades causalmente determináveis e os dá como tempo - como espacialização da obra. Entenda-se por espacialização da obra o fato de que ela está sempre se fazendo presente, está sempre recomeçando o impulso que a gerou e de que ela era já a origem. E se essa descrição nos remete igualmente à experiência primeira - plena - do real, é que a arte neoconcreta não pretende nada menos que reacender essa experiência. A arte neoconcreta funda um novo “espaço” expressivo.
Essa posição é igualmente válida para a poesia neoconcreta que denuncia, na poesia concreta, o mesmo objetivismo mecanicista da pintura. Os poetas concretos racionalistas também puseram como ideal de sua arte a imitação da máquina. Também para eles o espaço e o tempo não são mais que relações exteriores entre palavras-objeto. Ora, se assim é, a página se reduz a um espaço gráfico e a palavra a um elemento desse espaço. Como na pintura, o visual aqui se reduz ao ótico e o poema não ultrapassa a dimensão gráfica. A poesia neoconcreta rejeita tais noções espúrias e, fiel à natureza mesma da linguagem, afirma o poema como um ser temporal. No tempo e não no espaço a palavra desdobra a sua complexa natureza significativa. A página na poesia neoconcreta é a espacialização do tempo verbal: é pausa, silêncio, tempo. Não se trata, evidentemente, de voltar ao conceito de tempo da poesia discursiva, porque enquanto nesta a linguagem flui em sucessão, na poesia neoconcreta a linguagem se abre em duração. Conseqüentemente, ao contrário do concretismo racionalista, que toma a palavra como objeto e a transforma em mero sinal ótico, a poesia neoconcreta devolve-a à sua condição de “verbo”, isto é, de modo humano de presentação do real. Na poesia neoconcreta a linguagem não escorre: dura.
Por sua vez, a prosa neoconcreta, abrindo um novo campo para as experiências expressivas, recupera a linguagem como fluxo, superando suas contingências sintáticas e dando um sentido novo, mais amplo, a certas soluções tidas até aqui equivocadamente como poesia.
É assim que, na pintura como na poesia, na prosa como na escultura e na gravura, a arte neoconcreta reafirma a independência da criação artística em face do conhecimento prático (moral, política, indústria etc).
Os participantes desta I Exposição Neoconcreta não constituem um “grupo”. Não os ligam princípios dogmáticos. A afinidade evidente das pesquisas que realizam em vários campos os aproximou e os reuniu aqui. O compromisso que os prende, prende-os primeiramente cada um à sua experiência, e eles estarão juntos enquanto dure a afinidade profunda que os aproximou.

Amílcar de Castro
Ferreira Gullar
Franz Weissmann
Lygia Clark
Lygia Pape
Reynaldo Jardim
Theon Spanúdis

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Nós ( Variação do manifesto)

Nós nos denominamos KINOKS para nos diferenciar dos "cineastas", esse bando de ambulantes andrajosos que impingem com vantagem as suas velharias.
Não há, a nosso ver, nenhuma relação entre a hipocrisia e a concupiscência dos mercadores e o verdadeiro "kinokismo".
O cine-drama psicológico russo-alemão, agravado pelas visões e recordações da infância, afigura-se aos nossos olhos como uma inépcia.
Aos filmes de aventura americanos, esses filmes cheios de dinamismo espetacular, com mise en scène à Pinkerton, o kinok diz obrigado pela velocidade das imagens, pelos primeiros planos. Isso é bom, mas desordenado e de modo algum fundamentado sobre o estudo preciso do movimento. Um degrau acima, do drama psicológico, falta-lhe, apesar de tudo, fundamento. É banal. É a cópia da cópia.
NÓS declaramos que os velhos filmes romanceados e teatrais têm lepra.
— Afastem-se deles!
— Não os olhem!
— Perigo de morte!
— Contagiosos!
NÓS afirmamos que o futuro da arte cinematográfica é a negação do seu presente.
A morte da "cinematografia" é indispensável para que a arte cinematográfica possa viver.
NÓS os concitamos a acelerar sua morte.
NÓS protestamos contra a miscigenação das artes a que muitos chamam de síntese. A mistura de cores ruins, ainda que escolhidas entre todos os tons do espectro, jamais dará o branco, mas sim o turvo.
Chegaremos à síntese na proporção em que o ponto mais alto de cada arte for alcançado. Nunca antes.
NÓS depuramos o cinema dos kinoks dos intrusos: música, literatura e teatro. Nós buscamos nosso ritmo próprio, sem roubá-lo de quem quer que seja, apenas encontrando-o, reconhecendo-o nos movimentos das coisas.
NÓS os conclamamos:
— a fugir —
dos langorosos apelos das cantilenas românticas
do veneno do romance psicológico
do abraço do teatro do amante
e a virar as costas à música
— a fugir —
ganhemos o vasto campo, o espaço em quatro dimensões (3 + o tempo), à procura de um material, de um metro, de um ritmo inteiramente nosso.
O "psicológico" impede o homem de ser tão preciso quanto cronômetro, limita o seu anseio de se assemelhar à máquina.
Não temos nenhuma razão para, na arte do movimento, dedicar o essencial de nossa atenção ao homem de hoje.
A incapacidade dos homens em saber se comportar nos coloca em posição vergonhosa diante das máquinas. Mas, o que se há de fazer, se os caprichos infalíveis da eletricidade nos tocam mais do que o atrito desordenado dos homens ativos e a lassidão corrupta dos homens passivos?
A alegria que nos proporcionam as danças das serras numa serraria é mais compreensível e mais próxima do que a que nos proporcionam os requebros desengonçados dos homens.
NÓS não queremos mais filmar temporariamente o homem, porque ele não sabe dirigir seus movimentos.
Pela poesia da máquina, iremos do cidadão lerdo ao homem elétrico perfeito.
Ao revelar a alma da máquina, promovendo o amor do operário por seu instrumento, da camponesa por seu trator, do maquinista por sua locomotiva,
nós introduzimos a alegria criadora em cada trabalho mecânico
nós aproximamos os homens das máquinas
nós educamos os novos homens.
O novo homem, libertado da canhestrice e da falta de jeito, dotado dos movimentos precisos e suaves da máquina, será o tema nobre dos filmes.
NÓS caminhamos de peito aberto para o reconhecimento do ritmo da máquina, para o deslumbramento diante do trabalho mecânico, para a percepção da beleza dos processos químicos. Nós cantamos os tremores de terra, compomos cine-poemas com as chamas e as centrais elétricas, admiramos os movimentos dos cometas e dos meteoros, e os gestos dos projetores que ofuscam as estrelas.
Todos aqueles que amam a sua arte buscam a essência profunda da sua própria técnica.
A cinematografia, que já tem os nervos emaranhados, necessita de um sistema rigoroso de movimentos precisos.
O metro, o ritmo, a natureza do movimento, sua disposição rígida com relação aos eixos das coordenadas da imagem e, talvez, os eixos mundiais das coordenadas (três dimensões + a quarta, o tempo) devem ser inventariados e estudados por todos os criadores do cinema.
Necessidade, precisão e velocidade: três imperativos que Nós exigimos do movimento digno de ser filmado e projetado.
Que seja um extrato geométrico do movimento por meio da alternância cativante das imagens, eis o que se pede da montagem.
O kinokismo é a arte de organizar os movimentos necessários dos objetos no espaço, graças à utilização de um conjunto artístico rítmico adequado às propriedades do material e ao ritmo interior de cada objeto.
Os intervalos (passagens de um movimento para outro), e nunca os próprios movimentos, constituem o material (elementos da arte do movimento). São eles (os intervalos) que conduzem a ação para o desdobramento cinético. A organização do movimento é a organização de seus elementos, isto é, dos intervalos na frase. Distingue-se, em cada frase, a ascensão, o ponto culminante e a queda do movimento (que se manifesta nesse ou naquele nível). Uma obra é feita de frases, tanto quanto estas últimas são feitas de intervalos de movimentos.
Depois de conceber um cine-poema ou um fragmento, o kinok deve saber anotá-lo com precisão, a fim de dar-lhe vida na tela, desde que haja condições favoráveis para tal.
Evidentemente, nem o roteiro mais perfeito será capaz de substituir essas notas, tanto quanto o libreto não substitui a pantomima e os comentários literários sobre Scriabin não dão nenhuma idéia da sua música.
Para poder representar um estudo dinâmico sobre uma folha de papel é preciso dominar os signos gráficos do movimento.
NÓS estamos em busca da cine-gama.
NÓS caímos e nos levantamos ao ritmo de movimentos,
lentos e acelerados,
correndo longe de nós, próximos a nós, acima, em círculo, em linha, em elipse,
à direita e à esquerda, com os sinais de mais e de menos, os movimentos se curvam, se endireitam, se dividem, se fracionam, se multiplicam por si próprios, cruzando silenciosamente o espaço.
O cinema é também a arte de imaginar os movimentos dos objetos no espaço. Respondendo aos imperativos da ciência, é a encarnação do sonho do inventor, seja ele sábio, artista, engenheiro ou carpinteiro. Graças ao Kinokismo ele permite realizar o que é irrealizável na vida.
Desenhos em movimento. Esboços em movimento. Projetos de um futuro imediato. Teoria da relatividade projetada na tela.
NÓS saudamos a fantástica regularidade dos movimentos. Carregados nas asas das hipóteses, nosso olhar movido a hélice se perde no futuro.
NÓS acreditamos que está próximo o momento de lançar no espaço as torrentes de movimento retidas pela inoperância de nossa tática.
Viva a geometria dinâmica, as carreiras de pontos, de linhas, de superfícies, de volumes.
Viva a poesia da máquina acionada e em movimento, a dos guindastes, rodas e asas de aço, o grito de ferro dos movimentos, os ofuscantes trejeitos dos raios incandescentes.
Dziga Vertov

Manifesto 1 - Futurismo ( trecho)

Então, com o vulto coberto pela boa lama das fábricas - empaste de escórias metálicas, de suores inúteis, de fuliges celestes -, contundidos e enfaixados os braços, mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:
1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade onipresente.9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas idéias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o vôo deslizante dos aeroplanos, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários.
Há muito tempo a Itália vem sendo um mercado de belchiores. Queremos libertá-la dos incontáveis museus que a cobrem de cemitérios inumeráveis.
Museus: cemitérios!... Idênticos, realmente, pela sinistra promiscuidade de tantos corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos onde se repousa sempre ao lado de seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos dos matadouros dos pintores e escultores que se trucidam ferozmente a golpes de cores e linhas ao longo de suas paredes!
Que os visitemos em peregrinação uma vez por ano, como se visita o cemitério no dos dos mortos, tudo bem. Que uma vez por ano se desponta uma coroa de flores diante da Gioconda, vá lá. Mas não admitimos passear diariamente pelos museus nossas tristezas, nossa frágil coragem, nossa mórbida inquietude. Por que devemos nos envenenar? Por que devemos apodrecer?
E que se pode ver num velho quadro senão a fatigante contorção do artista que se empenhou em infringir as insuperáveis barreiras erguidas contra o desejo de exprimir inteiramente o seu sonho?... Admirar um quadro antigo equivalente a verter a nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de projetá-la para longe, em violentos arremessos de criação e de ação.
Quereis, pois, desperdiçar todas as vossas melhores forças nessa eterna e inútil admiração do passado, da qual saís fatalmente exaustos, diminuídos e espezinhados?
Em verdade eu vos digo que a frequentação cotidiana dos museus, das bibliotecas e das academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados, registros de lances truncados!...) é, para os artistas, tão ruinosa quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens embriagados por seu os prisioneiros, vá lá: o admirável passado é talvez um bálsamo para tantos os seus males, já que para eles o futuro está barrado... Mas nós não queremos saber dele, do passado, nós, jovens e fortes futuristas!
Bem-vindos, pois, os alegres incendiários com seus dedos carbonizados! Ei-los!... Aqui!... Ponham fogo nas estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais para inundar os museus!... Oh, a alegria de ver flutuar à deriva, rasgadas e descoradas sobre as águas, as velhas telas gloriosas!... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: resta-nos assim, pelo menos um decênio mais jovens e válidos que nós jogarão no cesto de papéis, como manuscritos inúteis. - Pois é isso que queremos!
Nossos sucessores virão de longe contra nós, de toda parte, dançando à cadência alada dos seus primeiros cantos, estendendo os dedos aduncos de predadores e farejando caninamente, às portas das academias, o bom cheiro das nossas mentes em putrefação, já prometidas às catacumbas das bibliotecas.
Mas nós não estaremos lá... Por fim eles nos encontrarão - uma noite de inverno - em campo aberto, sob um triste galpão tamborilado por monótona chuva, e nos verão agachados junto aos nossos aeroplanos trepidantes, aquecendo as mãos ao fogo mesquinho proporcionado pelos nossos livros de hoje flamejando sob o vôo das nossas imagens.
Eles se amotinarão à nossa volta, ofegantes de angústia e despeito, e todos, exasperados pela nossa soberba, inestancável audácia, se precipitarão para matar-nos, impelidos por um ódio tanto mais mais implacável quanto seus corações estiverem ébrios de amor e admiração por nós.
A forte e sã Injustiça explodirá radiosa em seus olhos - A arte, de fato, não pode ser senão violência, crueldade e injustiça.
Os mais velhos dentre nós têm 30 anos: no entanto, temos já esbanjado tesouros, mil tesouros de força, de amor, de audácia, de astúcia e de vontade rude, precipitadamente, delirantemente, sem calcular, sem jamais hesitar, sem jamais repousar, até perder o fôlego... Olhai para nós! Ainda não estamos exaustos! Nossos corações não sentem nenhuma fadiga, porque estão nutridos de fogo, de ódio e de velocidade!... Estais admirados? É lógico, pois não vos recordais sequer de ter vivido! Eretos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas!
Vós nos opondes objeções?... Basta! Basta! Já as conhecemos... Já entendemos!... Nossa bela e mendaz inteligência nos afirma que somos o resultado e o prolongamento dos nossos ancestrais. - Talvez!... Seja!... Mas que importa? Não queremos entender!... Ai de quem nos repetir essas palavras infames!...
Cabeça erguida!...
Eretos sobre o pináculo do mundo, mais uma vez lançamos o nosso desafio às estrelas
Marinetti