quinta-feira, 26 de março de 2009

Carta aberta aos jornalistas do Brasil

Carta aberta aos jornalistas do Brasil
Leandro Fortes

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa.Nesta carta, contudo, falo somente por mim.Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas.Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.Leandro FortesJornalistaBrasília, 19 de março de 2009

Clique aqui para ir ao site da Carta Capital, que diz: "Gilmar Mendes, o censor".Clique aqui para ver, na TV Viomundo, o programa que Gilmar Mendes não quer que você veja.http://www.youtube.com/watch?v=TCFP6qnjl94&eurl=http%3A%2F%2Fwww.viomundo.com.br%2F&feature=player_embedded

quarta-feira, 25 de março de 2009

Por que não um autor?

A primeira mão era um título que me veio à cabeça. Como um vento que veio fulminante, que veio como - veio vento - como eu nunca vi. Tratava-se ou não de uma pergunta? Não saberia, nem sei responder. Aliás, nunca soube, nem pude responder muita coisa. Tratava-se ou não de uma confissão, a de estar obstinado como qualquer intelectual a falar de autores? A referência era imediata aos autores da academia. Os motivos de nossos estudos são diversos: gosto, imagens do pensamento, necessidades, mapas, afetos e devires. Mas são um só: autores: Adorno, Aristóteles, Artaud, Almodóvar. Baudrillard, Beethoven, Cassavetes, Derrida[1]. Por um instante tentei por ordem, alguma ordem no inordenável. No que não pode ter ordem, pois não quer ter ordem. Pois diferente de uma biblioteca, de um índice remissivo, de um arquivo, a ordem não mais nos pertence. Não mais me pertence. Pois falo de mim, de um autor na era dos textos instantâneos. Das imagens de rápido acesso. De pouca poesia, pois o Eu triunfa.
Imagino por outro instante Nietzsche não diante das teclas de uma máquina de escrever, mas Nietzsche diante de um computador conectado a rede mundial de computadores. Sua repulsa por vezes ao pensamento alemão e sua necessidade de se clamar extemporâneo ou apátrida conduziriam seu Zaratustra pelas malhas da rede. Não sei se todos conectados são como o andarilho que anunciava a morte de Deus. Mas já estou cá falando de um autor. Quando queria falar dos desconhecidos, quando queria falar pra desconhecidos. (Meus interlocutores são exigentes demais e quando saem de mim viram cancro...) Voltar a escrever por mim. Mas os autores não me saem a cabeça. Li pouco, muito pouco. Por isso um único texto curto. Escrevi algumas bobagens publicadas aqui e ali. Alhures minhas lágrimas viraram textos, que são textos de textos, que são rastros de rastros. Não tenho história alguma pra contar. Se tivesse não perderia meu tempo com poucas páginas, não perderia meu tempo com páginas. Deixo isso para outro. Para os pseudônimos. Esse texto poderia ser póstumo, poderia ter o que contar, mas “prefere não fazê-lo”. Poderia ser uma nota de pé de página ao trabalho de um autor como Robertsov, um apêndice ao mais novo tratado de lógica de Wregh. Poderia ser cheio de emoção como o livro-filme de Brazaraov, mas não o será. Será seco como o pensamento. Será cheio de dúvidas como os mais novos. Será um best seller no melhor estilo Ann Marger. Será iluminista e iluminado pelas chagas de um autor maldito como S.G Fessworth. Será no máximo uma cópia de Borges, uma provocação mcluhaniana, um petardo rodrigueano. Será como Jorge de lima, pois será sendo. Será um livros insosso sobre listas. A listagem no entanto fica para uma próxima. Tudo o que aqui promete -e qual autor não promete algo? – nunca cumprirás. Entre ser ou não ser a tragédia shakesperiana nos legou uma nova possibilidade de se pensar o mito, como o fez Platão, Sêneca, os epicuristas e estóicos, Paulo de Tarso, Agostinho. Tomas de aquino. Como fizeram o trivium e o quadrivium. Como proporam alquimistas e cientistas. Como as obras infinitas de Descartes, Kant, Espinoza. Como Hegel e de ponta a cabeça. Como fantasmas que rondam a europa. Como Kierkegaard. Como Freud. Como Foucault e Deleuze que arquivaram a loucura, a literatura, o cinema. A modernidade nos apresentou na persona de um autor...
[1] A primeira série de nomes é também a primeira nota. O intuito aqui era citar todas as referências. Optamos em deixar de lado, pois não haveria espaço para tal. Pensamos em um segundo momento em colocar somente os literatos, mas vimos que tal movimento seria impossível, pois os outros autores retornariam do mesmo jeito.

terça-feira, 24 de março de 2009

Scanners


Essa foto ilustra uma reportagem http://br.tecnologia.yahoo.com/article/13032009/5/noticias-tecnologia-scanners-modernos-estao-perto.html sobre a descoberta da ciência de maquinicamente se ler a mente humana. David Cronenberg, o da foto de cima, em seu "Scanners" www.youtube.com/watch?v=TWZNlnLjLno já pelo início da década de 80 tratava do tema... O cinema sempre esteve antenado com a ciência, embora alguns acreditem que a mente dos cientistas está anos luz da mente dos cineastas. Eu particularmente preferia ler a mente do cineasta canadense...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Tenebroso ( jornalismo)


Li a matéria de capa em um taxi - e não podia deixar de reproduzir ( a capa) por aqui. A Veja nos surpreende cada vez mais. Me pergunto também mais e mais sobre a proximidade entre realidade e ficção. Não sou o único. Sinto com a quantidade imensa de alunos que venho tendo de uns tempos pra cá que o sentimento é o mesmo. A capa em questão lembra-me os filmes do expressionismo alemão, os doutores Mabuse, Caligari e cia... A Veja é a hipnose do jornalismo contemporâneo... O problema é que estamos começando a entender a proximidade entre o real e o imaginário. O problema é entender até quando o jornalismo será só isso?

terça-feira, 10 de março de 2009

Ouvindo vozes


Cacau e Mau fundaram comigo no último dia de 2004/primeiro dia de 2005 um projeto acústico chamado WC. Depois de muitos conselhos para que a banda passasse a uma formação com baixo e bateria e de muitas angústias de nossa parte para ajustar cada vez mais o som, o projeto tornou-se elétrico. O Mappa mundi tem quase um ano e esses parceiros gravaram as vozes das duas músicas que estamos fazendo de forma.... sensorial. A era que vivemos é das sensações e ter ao nosso lado a sensibilidade e a afinidade dos dois é pra agradecer. Na gravação das vozes fizemos algumas experimentações que só a mixagem vai dizer... Enquanto isso seguimos pensando com os ouvidos sobre o que fazer pra deixar esse mappa bem desenhado.

quarta-feira, 4 de março de 2009

CEL.U.CINE - O telefone toca filmes







Na noite da última segunda (2/03) rolou no Oi Futuro a abertura do Festival CEL.U. CINE - Festival de micrometragens. O bate-papo de abertura contou com a presença de Cora Rónai, Fernando Paiva, Ivana Bentes, Paulo Mendonça, Sérgio Sá Leitão e Marco Altberg (primeira foto.). Estive lá como professor acompanhando minha turma de História do Cinema Contemporêno do campus Rebouças da Universidade Estácio de Sá. O Cel.U.Cine está só começando sua segunda edição. Vale acompanhar e participar. É só clicar http://www.celucine.com.br/.



O belo cocktail com direito a performance da música da cellphonika e o sempre belo ambiente do Oi Futuro eram pano de fundo para uma das discussões mais importantes do audiovisual na atualidade. Uma discussão que abre as portas para uma outra posição do audiovisual. Se James Joyce profetizou com a manchete em seu Finnegans wake: " Televisão mata telefone em rixa de irmãos", o dispositivo (agora móvel) renasce para uma nova mensagem....



Num artigo de 2004, a Ivana que tava por lá e logo depois foi coberta por um cone-câmera ( segunda foto ) já observava que "Depois da revolução da internet, outra febre que já se espalhou pelo mundo vai chegar ao Brasil: a possibilidade das operadoras de telefonia transmitirem conteúdo: vídeos, jogos de futebol, clipes, textos, games, concorrendo com a televisão e com outros produtores de conteúdo nacionais. (BENTES, Ivana. O estado novo da cultura, Caderno Mais. Folha de São Paulo, 19 de setembro de 2004. ). Essa consideração no fundo permeou a reflexão do papo. No fundo, pois essa posibilidade começa a se realizar deixando produtores das mídias tradicionais um tanto quanto preocupados. A selvageria que nos permite produzirmos enquanto consumimos, consumir já re-produzindo ou co-produzindo de uma nova forma é assustadora e convidativa a nós meros mortais... Não a toa o festival aparece como mais que uma possibilidade.



Sergio Leitão conectou-se com o fim da idéia de meio como mensagem do tio McLuhan. Acredito que esta vai sim por água abaixo, pois somos muito mais extensões do meio que vice-versa. Mas outras provocações de McLuhan são mais vivas do que nunca... A idéia de que o conteúdo de um meio é outro meio, não de forma cíclica ou espiralada, mas como o corso e ricorso de Vico ( a idéia desse filósofo era pensar a história como um fluxo e ao mesmo tempo um refluxo, trocando em muitos miúdos) é profundamente aprofundada por McLuhan através de sua leitura de Joyce -o responsável pelo corso ricorso nas letras - e torna-se emblemática em minha visão ajudando-nos entender um pouco mais da discussão.



Cora Rónai antenada com novas sensibilidades parece crer que nossas experiências na relação com a mídia móvel estão no comando. Nossa vida como um outro arquivo. Os outros debatedores também trouxeram luz e mais meios para um debate embrionário e por isso vital.



Por aqui deixo uma sugestão de um artigo escrito em co-autoria com Márcia Cristina da Silva Sousa ( Márcia Bessa). O artigo "Liguem seus celulares no cinema: Panorama, possibilidades e perspectivas" foi publicado na revista científica internacional interscienceplace recentemente. Aí vai o link http://www.interscienceplace.org/downloads/numero_quatro/liguem_seus_celulares.pdf.



Liguem seus celulares!