domingo, 24 de agosto de 2008

Dois atos...


Dois atos sempre me interessaram mais. O ato sexual e o ato cinematográfico. Os dois, pois direta ou indiretamente me colocam como agente do ato, me colocam lançado sobre uma situação, um movimento que motiva, multiplica, metamorfoseia. O primeiro que abre as portas das percepções mais recônditas. O segundo, pois produz minhas realidades. Qual bom sexo não coloca você em contato próximo com o que há de mais próximo do Eu? Qual bom filme não se conecta e algum momento com sua vida? E quando penso aqui no ato cinematográfico me refiro ao ato que resume o discurso artístico. Quando penso no sexo, falo do sexo. Sim, se trata ainda do discurso. No fundo são o discurso amoroso e o discurso do audiovisual que me encantam.
Hoje (algum tempo atrás) pareci encontrar no discurso religioso um ato que me interessou. O eterno retorno do discurso religioso, da vigília sobre si próprio. Não o fato de a missa ser para mim como desejava meu pai, meu bom pai. Não o fato de ter participado da homilia lendo a carta aos hebreus no seu momento mais de-cisivo. A escolha de Abraão que eu tinha lido através do Kierkegaard e não através da bíblia. Leituras... Mas algo que fazia atuar e algo que em mim através do discurso me encantava. Talvez pelo padre ser extremamente sedutor, talvez por estar conectado aos meus estudos - era uma missa em ação de graças devido ao término do mestrado. Ao menos meu pai gostaria que assim o fosse. McLuhan era profundamente religioso, A igreja, certamente não, a prece, sim para ele devia ser o meio.
Não adianta, igreja é o local das culpas. Ali a culpa dos meus atos aparecia. Ali a culpa de pensar no filme de anteontem e no sexo com ela que ficara deitada em minha casa se tornava culpa. Culpa de só me interessar de fato por isso. Por dois atos. Em dois atos a peça da minha vida se dá. Pois o que não é sexo é cinema e às vezes até o sexo é cinema e o cinema é sexo. Ela me leva sempre para outro lugar. Sorrio.
A melhor motivação disso tudo, além de estar escrevendo novamente por mim e não pelos outros, é a idéia de descobrir mais sobre um terceiro ato. Que sempre soou como o grande discurso... E como temos medo dos grandes discursos nos apequenamos no ateísmo pequeno burguês ou no fervor de falar em nome das religiões...
Palavra da salvação. Quando salvação já é uma palavra... Vontade de rever o Evangelho do Pasolini...E o Dias de Nietzsche em Turim.... Vontade de dar um curso sobre cinema e religião... Vontade de invadir aquele quarto onde ela inda dorme e tirar o pecado do mundo...


Saudades do Pai. Mestre foi você que na simplicidade, no bom coração, na devoção não se ligava nos discursos. Agradecimentos muitos, ainda algumas culpas, dores, aflições... Angústia como a de Abraão.
Vejam Kinsey, aliás o filme de ontem ( ou de uns anos atrás)

2 comentários:

THORPO disse...

Cara, muito bom esse texto! Muito bom ler isso!

Linhas de fuga disse...

Valeu! Grande abraço,
saudade de ti,

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