domingo, 7 de março de 2010

Projetosexperimentais.com

http://www.e-publicacoes.com.br/index.php/projetosexperimentais/index

No ar mais um número da revista Projetosexperimentais.com que edito ao lado dos amigos Ricardo Severiano e Beatriz Schmidt. Por aqui, posto o editorial que escrevi para esse número.

“Como falar de uma “comunicação dos arquivos” sem tratar primeiramente do arquivo dos meios de comunicação”? (Jacques Derrida, Mal de arquivo, p.8).
Nesse número da revista Projetosexperimentais.com, essa provocação do filósofo francês Jacques Derrida parece ganhar vida. As propostas por aqui desenvolvidas beiram o grande arquivo que os meios de comunicação e os estudos dos meios criaram ao longo da consolidação do campo. Beiram a diversidade e a diferença, margeiam a alteridade nos fazendo compreender melhor a equação do poeta Rimbaud: “Eu é um outro”. Disso acreditamos tratar a comunicação desses arquivos que seguem. Sintetizá-los para dar forma a um editorial é também uma procura de vida no interior dos arquivos como observou Deleuze sobre a literatura de Melville. Os trabalhos se comunicam justamente por arquivarem propostas importantes e saudáveis para a área que passeiam pela própria saúde, mas também pelo corpo, pelas corporações pelos saberes e poderes que regem os corpos, mas também pela alma das mídias.
Daniela Savaget retoma em IMPRENSA EUFÓRICA, COMUNICAÇÃO COMPROMETIDA: O RECOLHIMENTO DO NELFINAVIR a questão de que jornalismo ainda possui “muitas dificuldades no diálogo entre comunicação e saúde”. Seu estudo receptivo sobre o recolhimento do antiviral, utilizado no tratamento da AIDS, sintetiza que nem sempre há comunicação efetiva pelos profissionais de mídia que tratam da saúde. Já em O CORPO COMO MÍDIA: AS RELAÇÕES ENTRE A TATUAGEM E A DIREÇÃO DE ARTE NA PUBLICIDADE é a saúde da própria publicidade que aparece em jogo. Tiago Larangeira oxigena boas idéias para pensar a direção de arte e o ofício do tatuador e as marcas na tatuado. Se o mestre Chico Buarque já declamou querer “ficar no teu corpo como tatuagem”, o artigo de Larangeira mostra que “é possível afirmar que o tatuador se “transforma” em um diretor de arte quando executa o seu trabalho.”, ficando na nossa mente ( como tatuagem) a necessidade de sempre se pensar o corpo.
Em AS TENTATIVAS DE GOVERNABILIDADE E AUTOREGULAÇÃO DO CIBERESPAÇO, Ines Maria Azevedo do Nascimento pensa os paradoxos da convivência entre o que regulamenta, mas também de quem precisa regulamentar o universo desenhado pela web. Como bem lembra: “O Estado tende a despertar para a questão do controle legal da internet, do exercício da sua soberania sobre a rede, e atentar para eventuais perdas dessa governabilidade em relação aos usuários, as trocas e operações correntes.” Nesse sentido e dessa constatação tentamos ao lado de Leonardo Lagden - em um artigo a
quatro mãos e muitas vozes - problematizar um pouco mais esse espaço dos vídeos na internet que nos força a repensar os direitos autorais. Nosso artigo QUANTOS TUBES HÁ NA REDE SE O MUNDO DAS IMAGENS DÁ VOLTAS E VOLTAS? tenta elencar outros „Youtubes‟ na rede. Vocação dos arquivos da comunicação, da comunicação dos arquivos.
Lembrando de início a mudança perceptiva e sua relação com a existência pensada por Walter Benjamin em um belo artigo também sobre a imagem na rede, sobre essa imagem-rede, Gabriel Malinowski associa o movimento cinematográfico dinamarquês Dogma 95, o Mumblecore ( forma como a crítica vem classificando os filmes de baixo orçamento na cena norte-americana) e o caso do massacre na escola Virginia Tech, onde mais uma vez mídia e barbárie se encontravam. IMAGENS DE NOSSOS TEMPOS é uma bela análise da relação entre estética e subjetividade no contemporâneo.
Inaugurando a seção de resenhas de nossa revista o Youtube aparece por aqui mais uma vez. Trata-se do livro YOUTUBE e a revolução digital : como o maior fenômeno da cultura participativa esta transformando a mídia e a sociedade”, de Jean Burgess e Joshua Green com textos também de Henry Jenkins e John Hartley. George Abreu Assunção sintetiza um pouco da obra desse mundo de arquivos audiovisuais onde transmitimos a nós mesmos.
Esperamos que o leitor arquive esses textos imersos no grande arquivo da www. Se já há algum tempo como observou o pintor Paul Klee os objetos nos percebem, os arquivos dessa projetosexperimentais.com são novas vidas; sobrevidas e sensorialidades que começam também a nos olharem.

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