sábado, 19 de janeiro de 2008

ENSAIO SOBRE A PERICULOSIDADE DA VERDADE NO CINEMA E SEUS ASPIRAS. OU PARA ENCERRAR A DISCUSSÃO ACERCA DE TROPA DE ELITE SOB A LÓGICA GLAUBERIANA

Uma passagem da Estética do filósofo Hegel sobre a finalidade da arte é fundamental para compreender a relação entre cinema e ideologia para encerrarmos - por favor, de vez - a celeuma em torno de TROPADIELITI “(...) As obras de arte não são, em referência à realidade concreta, simples aparências e ilusões, mas possuem uma realidade mais alta e uma existência verídica. (....) Se se quiser marcar um fim último à arte, será ele o de revelar a verdade, o de representar, de modo concreto e figurado, aquilo que agita a alma humana.”. (HEGEL: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p.464 .)
A polêmica em torno da obra de José Padilha revela o desconhecimento da verdade- com v minúsculo - da Arte. Justamente por tentar revelar a Verdade com V maiúsculo da realidade em termos hegelianos. Somos todos alvejados por balas de fotogramas. Somos capitãesnascimentomoura e alunos da universidade de cristo. Mas não pretendemos aqui de modo algum discutir o filme, exaustivamente analisado pelas mídias de massa e pelo próprio Padilha, mas, despertado por ele, trazer a baila algumas questões despercebidas pela crítica. Antes, uma pausa para a acusação do filme de fascista.
O neo-realismo italiano, movimento grandioso da história do cinema, tinha os pés fincados no regime de Mussolini e isso não foi problema para a corrente entrar na história como algo pra lá de libertário. Acusar de fascista a obra de Padilha é, no mínimo, não atentar para esse fato. A questão é que TROPADIELITI não inaugura nada de novo no cinema. Alertar é suficiente para arte ou sua função não é mais a de destruir como provocou Nietzsche? Troppaaaa não destrói, corrobora. Espetáculo puro pra Debord botar defeito.
Nem mesmo a discussão sobre a pirataria (que nada tem a ver com o filme) é nova. Cinema e pirataria sempre andaram juntos, pois piratas da perna de pau são os estúdios, os producers e seus delitos... Não inaugura, pois não é Arte. É comércio. Comércio de cópias e de Trajes do bope. Comércio de vídeos oportunistas e entrevistas do diretor. Trrrooppaa deve se pretender neo-realista, mas no máximo ele é clássico narrativo... Dialética e estética hegeliana.
Quanto as questões que não apareceram. Ficamos com pelo menos duas. 1- A figura do professor e sua aula em formato de seminários que assiste a apresentação de um Foucault que os foucaltianos devem desconhecer, que no quadro apresenta os nomes de Nietzsche (logo Nietzsche que revelava que graças a música as paixões possuem a si próprias - leiam cantando...”Tropa de elite osso duro de roer pega um pega geral também vai pegar você”....) e Deleuze (logo Deleuze que sempre estudou o cinema e as possibilidades de crença no mundo a partir da arte e que por isso cito: “O homem está no mundo como numa situação ótica e sonora pura. A reação da qual o homem está privado só pode ser substituída pela crença. Somente a crença no mundo pode religar o homem com o que ele vê e ouve” . É preciso que o cinema filme, não o mundo, mas a crença neste mundo, nosso único vínculo” - Gilles Deleuze, A imagem-tempo, São Paulo, Brasiliense, 1995, p.207.). A figura desse professor esquece seu papel para explicar o valor e não valor das instituições...
2 – O saco de gatos das ONG’s (ridicularizadas no filme e que ainda não se revoltaram contra isso) torna-se figura caricata como o personagem que a dirige, vivido de forma não tão caricata por André Mauro... A verdade da ONG de TROPADIELITI é apenas uma das verdades.
Que a crítica e Padilha não me perdoem por começar um texto como esse lembrando Hegel e por terminar conclamando a quem não assistiu, ainda, assistir Trrrrroooopà e depois correr para o comércio pirata para ver as continuações ou os vídeos no agora somente dispensário de lixo e spoofs YOUTUBE. Ou que lá, como alternativa, procure algo do nosso velho amigo Glauber, pois o cinema está em transe com sua tropa. Verdade revelada de um filme velado. Verdade desvelada de um mundo representado.

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