quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Recrutar a filosofia. Refazer a classe média


Em tempos difíceis dizem que os filósofos são recrutados. O Rio de tempos eternamente difíceis recrutou há pouco a Força nacional. Antes recrutou a Eco 92, o Pan 2007. Recrutou-se os formadores de opinião, representantes dos mass media que esbravejam com seus textos contra os governos e esquecem que são mediadores. Acham-se meio. Dificilmente recruta-se o pensamento. Escrevo sem saber onde, como e porque publicar. Num blog, mandar por e-mail aos mais chegados, aos amigos. Escrevo mesmo pra minha memória, mas é que diante de tantos fatos e de algumas poucas leituras, alguns pensamentos insistem em vir à tona e serem trocados com os amigos. Dialogados. Não se trata de um tema, não há recorte, quando as idéias sangram... Quando os corpos são aniquilados nos complexos arremedos de espaço urbano, a comunidade se transforma em número.

“Os direitos do homem são axiomas: eles podem coexistir no mercado com muitos outros axiomas, especialmente na segurança da propriedade, que os ignoram ou ainda os suspendem, mais do que os contradizem: “ a impura mistura ou o impuro lado a lado”, dizia Nietzsche. Quem pode manter e gerar a miséria, e a desterritorialização-reterritorialização das favelas, salvo polícias e exércitos poderosos que coexistem com as democracias? Que social democracia não dá a ordem de atirar quando a miséria sai de seu território ou gueto. Os direitos não salvam nem os homens, nem uma filosofia que se retorritorializa sobre o estado democrático. Os direitos dos homens não nos farão abençoar o capitalismo. E é preciso muita inocência, ou safadeza, a uma filosofia da comunicação que pretende restaurar a sociedade de amigos ou mesmo de sábios, formando uma opinião universal como “consenso” capaz de moralizar as nações, os Estados e o mercado” ( Gilles Deleuze, Félix Guattari, O que é filosofia?, São Paulo, Ed.34, p.139).

Essa longa citação encontrada no livro que pergunta o que é a filosofia nos convida para pensar os dias de hoje dos brasileiros. Não abençoamos o capital como grande parte dos formadores de opinião. Um fantasma ronda o Brasil, o fantasma da democracia. Governo do povo, sobre o povo. Democracia que nos permite hoje falar de liberdade da imprensa. Mas não falar para o cidadão. Um fantasma ronda o Rio de Janeiro: a classe média que necessita dos dois eixos da reflexão anterior: das esferas do estado: polícias e exércitos; do mundo da comunicação: imprensa e consumo. A opinião universal de que o Rio não vai bem das pernas elege agora mais um carnaval para deixar o estado respirar. A bela canção de Max Gonzaga, “Classe média”, embora retratando a violência urbana de São Paulo devia ser o hino do espetáculo contemporâneo e espelho da classe média, ou classe mídia carioca: “Aí a mídia manifesta a sua opinião regressa de implantar pena de morte ou reduzir a idade penal. E eu que sou bem informado concordo e faço passeata enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal”. Meios e estados safados em busca de um consenso para melhor passar os dias.




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