quarta-feira, 25 de março de 2009

Por que não um autor?

A primeira mão era um título que me veio à cabeça. Como um vento que veio fulminante, que veio como - veio vento - como eu nunca vi. Tratava-se ou não de uma pergunta? Não saberia, nem sei responder. Aliás, nunca soube, nem pude responder muita coisa. Tratava-se ou não de uma confissão, a de estar obstinado como qualquer intelectual a falar de autores? A referência era imediata aos autores da academia. Os motivos de nossos estudos são diversos: gosto, imagens do pensamento, necessidades, mapas, afetos e devires. Mas são um só: autores: Adorno, Aristóteles, Artaud, Almodóvar. Baudrillard, Beethoven, Cassavetes, Derrida[1]. Por um instante tentei por ordem, alguma ordem no inordenável. No que não pode ter ordem, pois não quer ter ordem. Pois diferente de uma biblioteca, de um índice remissivo, de um arquivo, a ordem não mais nos pertence. Não mais me pertence. Pois falo de mim, de um autor na era dos textos instantâneos. Das imagens de rápido acesso. De pouca poesia, pois o Eu triunfa.
Imagino por outro instante Nietzsche não diante das teclas de uma máquina de escrever, mas Nietzsche diante de um computador conectado a rede mundial de computadores. Sua repulsa por vezes ao pensamento alemão e sua necessidade de se clamar extemporâneo ou apátrida conduziriam seu Zaratustra pelas malhas da rede. Não sei se todos conectados são como o andarilho que anunciava a morte de Deus. Mas já estou cá falando de um autor. Quando queria falar dos desconhecidos, quando queria falar pra desconhecidos. (Meus interlocutores são exigentes demais e quando saem de mim viram cancro...) Voltar a escrever por mim. Mas os autores não me saem a cabeça. Li pouco, muito pouco. Por isso um único texto curto. Escrevi algumas bobagens publicadas aqui e ali. Alhures minhas lágrimas viraram textos, que são textos de textos, que são rastros de rastros. Não tenho história alguma pra contar. Se tivesse não perderia meu tempo com poucas páginas, não perderia meu tempo com páginas. Deixo isso para outro. Para os pseudônimos. Esse texto poderia ser póstumo, poderia ter o que contar, mas “prefere não fazê-lo”. Poderia ser uma nota de pé de página ao trabalho de um autor como Robertsov, um apêndice ao mais novo tratado de lógica de Wregh. Poderia ser cheio de emoção como o livro-filme de Brazaraov, mas não o será. Será seco como o pensamento. Será cheio de dúvidas como os mais novos. Será um best seller no melhor estilo Ann Marger. Será iluminista e iluminado pelas chagas de um autor maldito como S.G Fessworth. Será no máximo uma cópia de Borges, uma provocação mcluhaniana, um petardo rodrigueano. Será como Jorge de lima, pois será sendo. Será um livros insosso sobre listas. A listagem no entanto fica para uma próxima. Tudo o que aqui promete -e qual autor não promete algo? – nunca cumprirás. Entre ser ou não ser a tragédia shakesperiana nos legou uma nova possibilidade de se pensar o mito, como o fez Platão, Sêneca, os epicuristas e estóicos, Paulo de Tarso, Agostinho. Tomas de aquino. Como fizeram o trivium e o quadrivium. Como proporam alquimistas e cientistas. Como as obras infinitas de Descartes, Kant, Espinoza. Como Hegel e de ponta a cabeça. Como fantasmas que rondam a europa. Como Kierkegaard. Como Freud. Como Foucault e Deleuze que arquivaram a loucura, a literatura, o cinema. A modernidade nos apresentou na persona de um autor...
[1] A primeira série de nomes é também a primeira nota. O intuito aqui era citar todas as referências. Optamos em deixar de lado, pois não haveria espaço para tal. Pensamos em um segundo momento em colocar somente os literatos, mas vimos que tal movimento seria impossível, pois os outros autores retornariam do mesmo jeito.

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