sábado, 1 de março de 2008

COMUNIDADE E CIBERCULTURA: NOVOS DILEMAS DAS IMAGENS EM MOVIMENTO?


Algumas questões advindas com a tecnologia inauguram novos caminhos a serem trilhados por quem produz e consome cinema. Fenômenos na World wide web como as comunidades virtuais (Orkut, Myspace) e a nova sensação Youtube trazem à tona novas formas de se ler o cinema no contemporâneo. O próprio fazer cinematográfico também passa por interessante metamorfose, que novamente remete a pergunta sobre seu fim, mas que indica, sobretudo, novas possibilidades. Na denominação pós-cinema, novos conceitos são suscitados apontando para arte cinematográfica um novo mar, ou seria uma nova estrada de ferro? As imagens em movimento partem em seu trem para uma nova aventura. O trem parte da estação de Ciotat[1] rumo aos espaços da virtualidade. O mar da cibercultura é também cinematográfico.
O conceito de comunidades virtuais criado por Howard Rheingold e recortado por Henrique Antoun “considerava as comunidades virtuais capazes de recriar o tradicional sentido de participação e envolvimento das antigas comunidades, constituindo uma revitalização da esfera pública e social”[2]Pensar o envolvimento da arte cinematográfica com o ciberespaço para entender uma participação maior dos indivíduos em torno do esquecido rótulo Comunidade é dar novos ares ao cinema. Na história do cinema alguns movimentos já possibilitavam detectar essa relação. O neo-realismo, os cinemas novos e parte do cinema político não são reeditados com a internet, mas ganham novos contornos com a liquidez promovida pela interatividade e com alguma liberdade que o novo meio proporciona ao pensarmos na relação com a comunidade.
Não somente em termos de uma mudança em relação aos veículos existentes ou de reformulação, mas, sobretudo no que tange a uma nova concepção de fazer comunicação, vínculo entre os sujeitos, deve ficar o pensamento comunitário e sua relação para com o cinema. Coloca o filósofo da desconstrução, Jacques Derrida, pensando um novo Estado sob a égide das novas tecnologias.

Um estado virtual cujo lugar fosse um site da internet, um Estado sem solo, seria –eis a questão que nos orienta _ um Estado intelectual? Um Estado cujos cidadãos fossem essencialmente intelectuais, intelectuais enquanto cidadãos? Uma questão de ficção científica? Não acredito de modo algum[3].

O próprio virtual redesenha, e o pensamento sobre a comunicação tenta redefinir muitos conceitos, a relação do sujeito contemporâneo com a nova tecnologia da informação e da comunicação em rede. Um estado sem solo na internet mediado pelas questões das imagens em movimento também não nos parece questão de ficção científica. Em meio a esperanças democráticas, mudanças na subjetividade, interatividade e uma virtualização da realidade, o cinema pode ser pensado ainda como o meio que une o fantástico ao tecnológico, mas que acima de tudo traduz de forma poética os anseios de um mundo melhor. Como coloca Deleuze, o cinema é algo que nos faz crer nesse mundo.
[1] A referência aqui é ao primeiro filme mostrado ao público dos irmãos Lumiere “A chegada do trem à Estação Ciotat” (Arrivée d´un train in gare à la Ciotat, 1895).
[2] Henrique Antoun, O poder da comunicação e o jogo das parecerias na cibercultura, XIII Compós, p.3
[3] Jacques Derrida, Papel máquina, São Paulo, Estação liberdade, 2004. p. 214

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