domingo, 17 de maio de 2009

Desconstruindo McLuhan



Meu livro "Desconstruindo McLuhan - O homem como (possível) extensão dos meios" está no prelo. Ele vai sair pela e-papers em outubro desse ano. Vou postar aqui em 2 etapas a introdução.





"O que é um livro que nem menos sabe levar-nos
para além de todos os livros "
Nietzsche


“A tecnologia significa constante revolução social” [1] . Essa frase encontrada no primeiro livro de Herbert Marshall McLuhan - ‘A noiva mecânica’ - parece sintetizar as idéias contidas nessa obra de 1951. O trajeto da revolução de sua origem aos dias de hoje mudou, mas sua relação com a tecnologia permanece como essa evidenciada pelo teórico canadense. Esse livro nasce com o intuito de pensar como as teorias de McLuhan revolucionam até hoje o mundo tecnológico, sensorial e como a tal aldeia global se faz presente, se faz filmada. Embora tal termo possa ser repensado nos dias de hoje e não seja nem mesmo nossa principal visada mencioná-lo nesse intróito nos soa bem.
Explorar as mudanças na sociabilidade, na subjetividade, no pensamento e na cultura, efetuadas através das invenções técnicas do homem, era a preocupação de Marshall McLuhan. Esse livro nasce com o intuito de pensar a revolução causada pelas teorias de McLuhan no campo da comunicação, particularmente no que tange a relação entre técnica/tecnologia e imaginário. Tal preocupação constitui a reflexão sobre o próprio conceito de homem na era das tecnologias informacionais, da sociedade marcada pela velocidade e pela virtualidade. Seu objetivo é propor uma nova forma de tentar entrar no pensamento de um autor de difícil compreensão e de questões viscerais do contemporâneo. Autor retomado pelo afã das novas tecnologias. Refletir sobre o binômio homem/técnica a partir da leitura do teórico canadense não é novidade. Tal idéia parece ser tratada há muito tempo em diversos estudos que retomam ou reinterpretam o pensamento de McLuhan. A novidade que se tenta então propor com essa pesquisa é traduzir o teórico dos media através de um meio de comunicação, de uma - permitam- velha tecnologia, a saber: o cinema.
Meio técnico por excelência, o meio cinematográfico nos convida a compreender um teórico que se debruçou sobre os media para pensar o homem. O objetivo é refletir sobre a idéia central do autor em sua principal obra Os meios de comunicação como extensões do homem[2] ( sabendo ser impossível esquecer as demais), considerando que, com o advento das novas tecnologias, uma desconstrução do pensamento acerca dos meios como extensão do homem de McLuhan pode ser proposta. Por desconstrução dialogamos evidentemente com a filosofia de Jacques Derrida. Derrida como bem observou a orientadora desse trabalho entra aqui como uma espécie de ator coadjuvante. Acho que Derrida não deixaria de gostar dessa posição. O homem como prolongamento dos meios, através da leitura que o cinema tenta revelar em algumas produções ao longo de sua história, bem como a própria mutação que passa a arte cinematográfica nos convida a pensar que um novo ser humano se constitui dos meios. Para além da metafísica, os metameios são nosso alvo nessa leitura desconstrucionista de McLuhan. As mudanças pensadas através do imaginário tecnológico nos levam também a considerar algumas reverberações das teorias de McLuhan. O cinema como algo capaz de produzir realidades, como sugere outro autor importante para nossas reflexões, Gilles Deleuze, parece promover uma leitura interessante de diversos pensadores. A escolha de McLuhan é evidentemente proposital, por tratar-se de pensador categórico dos media. Poderíamos aplicar nosso fundamento a qualquer autor[3], mas ver como o cinema lê as teorias de um pensador categórico da comunicação já nos é parte de nossa metodologia.

[1] Marshall McLuhan. The mechanical bride. New York: Beacon Press, 1967, p.40. Technology means constant social revolution. (Tradução do autor).
[2] O título original do livro é Understanding media-the extensions of man. Na tradução brasileira de Décio Pignatari Understanding media aparece como subtítulo da obra. A frase Extensions of man foi transposta para o português como os meios de comunicação como extensões do homem. Como veremos no decorrer do trabalho, a idéia de meio não é restrita aos meios de comunicação em McLuhan, embora seja a questão preponderante.
[3] Quando da apresentação desse trabalho ao professor Muniz Sodré ele teceu essa observação que não esquecemos aqui de recordar

Nenhum comentário: