domingo, 31 de janeiro de 2010

o Historial Vasco ( carta a Aldir Blanc)



Rio, 31 de janeiro de 2010

Caro Vascaíno e gênio Aldir Blanc, muito obrigado!

Tinha jurado pra mim mesmo ( embora essa expressão seja uma das piores pra o que realmente fiz) que não ia escrever sobre meu time nesse espaço que dedico às minhas paixões, mas uma recente leitura sua me fez repensar esse pathos. Talvez por O Vasco ser minha grande paixão. Durante muito tempo como qualquer uma, cega e desenfreada. Depois de algumas frustrações com a política do clube sobretudo, essa paixão se transformou em um sentimento inomeável. Ler seu livro em parceria do José Reinaldo Marques, " VASCO - A cruz do bacalhau", me fez tentar nomear esse sentimento ( que nunca vai parar). O Vasco é o time que me faz, e deve fazer todo vascaino, gostar da História. Reluto com a noção de História até hoje. Talvez por minha leitura de Nietzsche uns 20 anos atrás. Sei dos excessos a que ela nos submete e que nos submetemos a ela. Mas o historial - que é como considero o Vasco hoje - é um adjetivo de primeira! Mais do que o Histórico, o historial é como um adjetivo que precisamos re_compor. Esse livro A cruz da bacalhau é uma lição do que um time deve ser. É uma lição do que uma paixão pode ser. Sem fanatismos de tocar o hino a cada segundo ou de se querer nação. O vasco é uma nau, uma nau fantasma que nunca vai afundar... Escrevo essas linhas enquanto nosso Vasco ganha do Friburguense. Tenho poucos minutos para voltar e sofrer historialmente. O Vasco é o time da virada, pois é o time que mais bem representa a História do futebol brasileiro. Pois lutou contra o preconceito dentro e fora dos gramados. Pois foi o primeiro a de fato (assim como a História gosta) a levar o negro pra dentro dos gramados. Pois teve a primeira chefe de torcida mulher. Pois é um time de artistas ( aquele quadro do programa da 'Grobo' do Serginho Groisman da banda da torcida nunca poderá ser com o Vasco, pois a quantidade de músicos vascaínos ( falo músicos mesmo e não produtos da indústria cultural mais nefasta) é incontável. O Vasco é o primeiro nos títulos internacionais e nos acordes nacionais que importam ( Pixinguinha - em boas mãos - o senhor, Guinga, Wagner Tiso, Francis Hime, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Marcelo Camelo, Clementina de Jesus, Fernanda Abreu, Erasmo Carlos, Celso Blues Boy, Wilson Oliveira Filho - o vasco me fez querer tocar guitarra!!!). Ah, e o maior torcedor e não-músico, só no coração: Wilson Oliveira, meu pai que, como Ceceu Rico (seu simpático pai), é o maior vascaíno!!! Ah, quantas vezes o Vasco foi primeiro, que hoje eu nem ligo de ser o eterno segundo. Segundo naquela decisão contra O Real Madri ( aquele jogo em que uma torcida carioca criou uma pseudo torcida Brasil/Espanha) que levou ao abraço nu com meu pai! Despido até das roupas em nome da paixão que herdei dele, do historial que herdei dele e hoje tanto me dói por sua falta. As vitórias em campo ou não do passado me encantam mais que qualquer título. Deem eles todos ao nosso arqui - rival ( assim separado mesmo!!!) Pois me interessa muito mais o fato do Vasco ser mais do que campeão, ser historial. E ser isso tudo fora do tempo e do espaço. Se como você bem lembrou logo depois da queda para a segunda divisão: "Se o vasco for pra terceira divisão sou Vasco, se o vasco deixar de existir, mesmo assim sou Vasco."

Suadações vascaínas no cair da tarde,
Wilson

6 comentários:

Leo Lagden disse...

Muito bonita a sua história, pena que para o lado errado...rsrsrsr

Abraços

Linhas de fuga disse...

O lado certo fica com os títulos, o lado errado fica com a lembrança! E graças ao lado errado o futebol segue seu rumo junto à memória.
Quer título melhor que essa carta?
“Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

"Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA"

A propósito os 12 jogadaores eram negros e pobres. A carta na íntegra tá na sala de troféus mais bonita da história do futebol brasileiro

Unknown disse...

Lembrando que os vascaínos TEMOS apenas a Cruz de Malta no peito; não somos de criar torcidas para um jogo apenas. Somos movidos pelo nosso princípio de ser Vasco!
Comemoramos os nossos títulos, ao invés de torcer pela derrota do próximo!
Cantamos de coração!
Vasco!!!

Bernardo disse...

Beleza de palavras!

Linhas de fuga disse...

Obrigado Jardel e Brownson! É hoje. abs
W

Linhas de fuga disse...

Obrigado Jardel e Brownson! É hoje. abs
W