O que significa hoje, Maio de 1968? As efemérides em geral giram em torno de fatos concretos: uma batalha, uma mudança no mapa, uma descoberta, uma lei nova. Porém, Maio de 68 é uma efeméride múltipla, flexível, geograficamente diversificada e encaixada em processos políticos completamente diferentes e até opostos.
1968 começa antes e vai além de maio. É um processo e não um momento. Mesmo na França, os significados de Maio de 68 são variados: havia a revolta dos estudantes contra um sistema acadêmico burocratizado, havia a mágoa das esquerdas contra o presidente Charles de Gaulle pela violenta repressão na Argélia, havia um protesto dos cineastas contra o ministro da Cultura pela demissão de Henri Langlois da Cinemateca.
Nos Estados Unidos, a rebelião foi alavancada pela reação à guerra no Vietnã. Na Europa Oriental, o protesto à derrubada da Cortina de Ferro imposta pelo estalinismo. E no Brasil a rebelião visava a ditadura militar que, em quatro anos, já colocara dois presidentes no poder e ameaçava eternizar-se.
Em cima das rebeliões políticas encadeadas produziam-se contestações sociais, sexuais e culturais. Duas décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial e da falsa paz representada pela Guerra Fria, o mundo ocidental queria mudar.
1968 foi um gigantesco impulso para mudanças setorizadas. Hoje, 40 anos depois, as novas gerações não conseguem entender exatamente o que aconteceu, nem conseguem colocar-se diante das transformações que sobraram. É possível que o vulcão já esteja novamente em erupção e ainda não percebemos, é possível também que as conquistas de 1968 tornaram nosso sistema ainda mais rígido e inflexível.
Alberto Dines
Editorial do programa Observatório da Imprensa na TV, exibido em 27/5/2008
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Um comentário:
Fala Wilson!
Só agora vi teu comentário sobre musicar aquele meu poema.
Claro que topo!
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